«Era um violador à solta» - TVI

«Era um violador à solta»

Julgamento do alegado serial killer (Foto Lusa/ Paulo Novais)

Serial killer: Nas escutas telefónicas admitiu que matou as jovens para não ser denunciado por abuso sexual, mas garantiu que não as violou. «Passei-me da cabeça e fiz uma burrice». Perante as inconsistências decidiu calar-se. Juiz ordenou nova avaliação psiquiátrica

O ex-cabo da GNR de Santa Comba Dão ouviu esta quarta-feira em tribunal as escutas telefónicas em que confessa os três crimes, depois de na última sessão ter referido que não se lembrava de nada.

A primeira intercepção ouvida reportava-se a uma conversa mantida com a mulher, a 23 de Junho, quando o ex-cabo estava detido na PJ. António Costa explica, em lágrimas: «Andava stressado. Entrei em pânico».

No dia 26 de Junho, pelas 21:15, em conversa com o filho diz: «Confessei tudo, mas a advogada diz que não faz fé. No dia do julgamento tenho de me calar».

Em resposta aos anseios da família, que temia ficar numa situação económica precária, o arguido dá instruções para que a mota seja colocada em nome do filho e solicita ainda o levantamento de 400 euros referentes a um seguro. Também lembra que a casa da Figueira da Foz deve ser vendida.

«Tinha que assumir, eles tinham provas concretas». «Foi um trauma que me deu na cabeça». E acrescenta: «Eu não as violei», «elas iam queixar-se de mim. Foi um beijo que eu pedi».

«Se quiser continuar . . .»

Nesta altura o juiz inquiriu o arguido: «Se quiser continuar . . .». António Costa, de pé, não respondeu. E o magistrado ordenou que prosseguisse a escuta.

Em conversa com um cunhado, o ex-cabo diz: «Eu já confessei tudo». «Passei-me da cabeça. Fiz uma burrice do caraças». Sobre os corpos refere: «Um deitei-o na Figueira, os outros na barragem. Um já apareceu sem cabeça».

«Tinha sangue no carro, cabelos no barracão. Eu não tinha hipóteses. Sei que tenho de pagar por aquilo que fiz», prossegue. Explica ainda que «uma delas (Isabel) foi morta contra a porta do carro», mas que não teve intenção de a matar. «As outras duas (Mariana e Joana) disseram que iam acusar-me. Tive medo».

«Eu matei as pessoas porque elas iam queixar-se de mim». Perante esta explicação o cunhado diz-lhe que «era diferente», isto é, que uma queixa por violação seria menos grave. «Era quase igual. Era um violador que andava à solta. Ia preso na mesma», responde António Costa.

«Então a pistola encostada à cabeça?»

Perante as confissões inequívocas e o elogio às «pessoas porreiras» da PJ, o juiz questionou-o: «Então a pistola encostada à cabeça?», numa alusão ao depoimento durante o julgamento em que o arguido acusa o inspector Domingues de ameaças.

O arguido insistiu: «não me lembro de nada», muito embora tenha admitido: «Eu disse isso (o que está nas escutas), não posso negar, mas foi tudo uma farsa».

Apesar de o juiz referir que «não batia a bota com a perdigota», o arguido insistiu que fora ameaçado para forçar uma confissão. «Se o senhor não vai dizer em tribunal o que disse lá dentro (à Judiciária) leva um tiro», garante que lhe disse o inspector.

Após ter confessado os crimes, assegura que a PJ sossegou: «Depois já me traziam ao colo».

Perante as evidentes contradições o juiz apertava o arguido. António Costa que a cada investida do magistrado respondia invariavelmente «Isso tem uma explicação», acabou por desistir. «Peço imensa desculpa, mas não tenho mais explicações a dar». O juiz perguntou: «Não quer falar mais», ao que o arguido respondeu: «Por agora não».

Pais começaram a depor

Seguiu-se o depoimento dos pais de Isabel Cristina e da mãe de Mariana, que a pedido do Ministério Público, foram prestados na ausência do arguido.

Os pais descreveram o trauma vivido e os problemas de saúde que lhe estão associados. Tudo de forma a justificar as indemnizações pedidas ao arguido.

Entretanto, o juiz ordenou a repetição da perícia psiquiátrica ao ex-cabo com vista a determinar a sua imputabilidade ou inimputabilidade. O magistrado determinou ainda que o Instituto de Medicina Legal de Coimbra avalie a necessidade de repetir a perícia psicológica. Em caso afirmativo, aquela também deverá ser repetida.

O requerimento partiu da defesa que alega o facto de os exames terem sido realizados usando métodos pouco fiáveis.
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