«Se houver provas, não perdoo» - TVI

«Se houver provas, não perdoo»

Julgamento do alegado serial killer (Foto Lusa/ Paulo Novais)

Irmão do ex-cabo garante que não aceita mentir por ele e diz que não leu o bilhete que este lhe entregou a explicar o que devia dizer em tribunal. Jovem refere que António Costa lhe pediu cuidado «porque podia ser a próxima». Mães exaltadas

José Costa, irmão do ex-cabo da GNR de Santa Comba Dão, acusado da morte de três jovens, garantiu esta tarde em tribunal ter visto o arguido às «14:25», de 8 de Maio de 2006, data do desaparecimento da terceira vítima, Joana.

A precisão nas horas e na data é justificada com o facto «de ter saído de casa, nas proximidades, às 14:23», bem como «de ninguém conseguir esquecer o alvoroço do dia 9», altura em que o desaparecimento da Joana foi tornado público.

Mas se garante ter visto o irmão «no quintal», no percurso para o trabalho, após ter ido a casa almoçar, José Costa também afirma que no caminho inverso, cerca das 12:40, não viu António Costa. Joana foi vista pela última vez no início dessa rua, cerca das 11:30. «Vi-o às 14:25. Estava no quintal de sacho na mão a abrir o rego. Acenei-lhe», precisou.

«Se me pedisse para mentir, eu não aceitava»

José Costa, a quem o juiz avisou que não era obrigado a depor, admitiu ainda que o irmão lhe entregou um «bilhete dobrado», aquando da segunda (e última) visita ao arguido na prisão de Santarém, em Abril de 2007.

No referido bilhete, remetido anonimamente à PJ, e incluído no processo, o arguido pede ao irmão para afirmar em tribunal que o viu no dia 8 de Maio de 2006 no quintal, por volta das 13:00 e, depois, às 14:25.

«Zé, os advogados e os juízes são muito persistentes, tens de estar calmo e manter sempre a tua palavra», ter-lhe-á ainda pedido o irmão no bilhete manuscrito e que o advogado da família de Joana fez questão de ler em tribunal.

O irmão do arguido, que não consegui manter a calma em julgamento, garante que guardou o bilhete no bolso e que nunca o leu, tendo aquele desaparecido. E acrescentou: «Se ele me pedisse para mentir eu não aceitava. Eu não sei mentir».

A testemunha admitiu que o documento tenha sido encontrado pela sua mulher, mas não confirma se foi esta a remetê-lo ao processo.

«Achas-me com cara de serial killer, de psicopata?»

José Costa garantiu ainda que interrogou o irmão sobre os crimes, na altura em que este foi detido, em Junho de 2006, tendo-lhe o arguido negado tudo nestes precisos termos: «Achas-me com cara de serial killer ou de psicopata?». Admite ter ficado «chocado» e garante: «Ainda hoje não acredito nisto».



Por explicar ficou ainda o facto de José Costa nunca ter confrontado o arguido com a confissão que este fez à mulher e ao filho André.

Se «um bom pai e um bom filho» pode ser igualmente um assassino em série é coisa em que o irmão prefere não acreditar. Mas «se houver provas jurídicas, também não lhe perdoo o que fez. Isto não se faz a ninguém».

«Disse-me para não passar por ali porque podia ser a próxima a desaparecer»

Cláudia Borges, prima da terceira vítima, recordou em tribunal um conselho do arguido, cerca de uma semana após o desaparecimento de Joana. «Disse-me para nunca passar por ali sozinha porque podia ser a próxima a desaparecer».

A testemunha confirmou ainda que o arguido lhe fazia várias perguntas sobre a sua vida pessoal, nomeadamente, sobre «as horas das explicações», facto a que nunca deu importância «afinal era um agente da GNR».

Durante todo o dia, o arguido ouviu os depoimentos dos familiares com atenção e não se livrou das reacções mais intempestivas das mães das vítimas. O episódio da manhã foi protagonizado pela mãe de Mariana que, durante a interrupção para almoço, e ainda na sala de audiências, tentou aproximar-se do ex-cabo para o insultar. Ao final da tarde, foi a vez de a mãe de Joana aproveitar o momento em que os guardas algemavam António Costa, dentro da sala, para gritar: «Vai-te embora assassino, monstro!»

O tribunal acabou de ouvir as testemunhas do processo, tendo marcado as alegações finais para 11 de Julho, às dez da manhã. Até lá, o juiz espera receber o relatório da perícia psiquiátrica ao arguido, realizada no Instituto de Medicina legal.

Leia a primeira parte: «Ex-cabo: mulher e filho ouvidos»
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