António Costa, ex-cabo da GNR de Santa Comba Dão, acusado da morte de três jovens, foi a pé até Fátima, precisamente quatro dias após o desaparecimento da terceira vítima.
A viagem foi recordada esta manhã em tribunal pela vizinha do militar na reserva, que o acompanhou na peregrinação, juntamente com a mulher daquele e outra vizinha.
Maria Casimira Alves lembra-se de, dias antes da partida, a 5 de Maio de 2006, «a mulher do senhor Costa ter dito que o marido tinha muita pena mas não podia ir porque estava aleijado no joelho» na sequência de uma queda de moto.
Curiosamente, a 10 de Maio (dois dias após o desaparecimento de Joana), a mulher de António Costa disse que afinal, o marido já podia ir. «Partimos no dia 12 de Maio», lembrou a vizinha do casal.
Quando retomaram a viagem, a 19 de Maio, Maria Casimira recorda que o militar na reserva «estava muito preocupado». «Disse que se tinha cortado nas silvas e que a PJ andava a fazer-lhe muitas perguntas». Além disso, referiu que «tinha medo que a PJ encontrasse sangue e cabelos dele». Respondeu-lhe que «sendo vizinho das vítimas, era muito natural que fosse interrogado». A testemunha lembra-se de ter visto os «arranhões» no braço do arguido, mas não deu «grande importância ao caso».
Lesões causadas em vida
«O afogamento foi a causa de morte da primeira vítima», Isabel Cristina, mas a perita que realizou a autópsia detectou «lesões no fígado e na cabeça provocadas em vida e adequadas a causar a morte, desde que não tratadas atempadamente».
À pergunta do juiz e do Ministério Público sobre se as lesões teriam sido provocadas por agressões ou se resultariam do embate do corpo em superfícies sólidas, durante o lançamento à água por uma escarpa, a perita explicou que os ferimentos no fígado «eram compatíveis com um pontapé e não com o lançamento à água».
«Sempre disposto a ajudar as outras pessoas»
O ex-cabo António Costa «dava-se muito bem com toda a gente» e «ninguém contava» com o que aconteceu, referiu a vizinha da frente, Maria Rafaela Santos.
Também «uma das melhores amigas da terceira vítima (Joana)» disse esta manhã em tribunal que o arguido «era uma pessoa muito simpática, que falava com toda a gente» e que merecia a confiança das pessoas.
«Falávamos bem com ele», recorda, acrescentando que «uns tempos antes do desaparecimento», Joana comentou «com a maior normalidade» que o militar na reserva «sempre que tinha novidades no quintal chamava-a para ver». Quando saiu da sala, não escondia as lágrimas nos olhos.
Ana Sofia Lemos, amiga do irmão de Joana, confirmou a impressão de um ex-cabo «muito cordial e simpático, sempre disposto a ajudar as outras pessoas». Os «galanteios» às raparigas eram feitos «com o maior respeito».
Sofia recordou que só ao terceiro desaparecimento é que o militar começou a abordar o assunto. «Perguntava se eu sabia qualquer coisa da Joana»; «disse que a Mariana devia estar no Brasil», «comentários que toda a gente fazia e, por isso, nada levava a desconfiar».
Inquirida pelo Ministério Público, a jovem referiu ainda que o arguido demonstrava conhecer pormenores da sua vida. «Então ontem saíste com o namoradinho?», «Olha, ontem vi-te a limpar a casa». Mas a jovem «não interpretava mal os comentários. «Eu via isto mais como o comportamento de uma pessoa que não tinha nada que fazer e andava à janela a ver a vida dos outros».
António Costa ouviu tudo com atenção. Por vezes tomava notas, outra acenava com a cabeça, em sinal de discordância.
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Ex-cabo foi a pé a Fátima quatro dias após o crime
- Cláudia Rosenbusch
- 27 jun 2007, 12:51
![António Costa à entrada para o Tribunal da Figueira da Foz (Paulo Novais/Lusa)](https://img.iol.pt/image/id/6382971/1024.jpg)
Vizinhos recordam uma pessoa «sempre disposta a ajudar os outros»
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