O vice-almirante Gouveia e Melo admitiu, esta quarta-feira, estar preocupado com o "stock muito limitado" de vacinas contra a covid-19, que está a impedir o aceleramento do processo de vacinação no país. O coordenador da task-force disse ainda que o prazo para a imunidade de grupo, a 8 de agosto, pode estar comprometido.
Foi durante a Comissão de Saúde, no Parlamento, que Gouveia e Melo disse que Portugal está a vacinar um pouco acima das 100 mil pessoas por dia, mas que o objetivo é chegar às 140 mil.
Estamos agora a vacinar ligeiramente acima das 100 mil vacinas por dia e se aumentarmos os horários, podemos ir até às 140 mil vacinas por dia. Portanto, não é por falta de capacidade, é mais por falta de vacinas disponíveis", disse.
O vice-almirante explicou que as vacinas têm chegado sempre "em menor quantidade", com constantes adiamentos nos prazos de entrega e que isso pode atrasar em 15 dias o prazo dos 70% da imunidade de grupo, previsto para 8 de agosto.
A expectativa de terminar os 70% de primeiras doses a 8 de agosto tem sido comprometida por adiamentos de entregas e produção de vacina em duas marcas. No entanto, estou a fazer o melhor que posso para otimizar os stocks que temos e a gestão que temos para tentar cumprir essa meta. No entanto, julgo que é prudente dizer que essa meta pode atrasar-se até 15 dias relativamente ao esperado, se continuarmos a ter redução das entregas previstas", avançou durante a audição.
Vacinas da Janssen ficaram pela metade em junho e julho já leva corte de 150.000
Portugal teve acesso em junho a cerca de metade das 300.000 vacinas da Janssen que estavam previstas e este mês o corte será de 150.000 vacinas do mesmo laboratório, anunciou o coordenador do Plano de Vacinação contra a covid.19.
O vice-almirante Gouveia e Melo explicou que em junho estava previsto o acesso a 300.000 vacinas da Janssen e só chegaram 146.000 e que este mês estavam previstas 800.000 e serão menos 150.000.
E isto são coisas que só sabemos a 15, 20 ou 30 dias, no máximo”, afirmou.
Ainda a propósito de alterações nas previsões das autoridades, o responsável apontou a vacina da biofarmacêutica alemã CureVac, que na semana passada se soube ter conseguido alcançar apenas 47% de eficácia.
“Era para estar disponível no 3.º trimestre e já não estará”, afirmou Gouveia e Melo, acrescentando: “São estas más notícias que nos deixam preocupados”.
Convocação de utentes para toma da 2.ª dose da Astrazeneca feito a nível local
A convocação das pessoas para receberem a segunda dose da vacina da Astrazeneca está a ser feito a nível local para não “criar um pesadelo logístico”, avançou Gouveia e Melo.
Para não criar um pesadelo logístico em termos da convocação das pessoas, estamos a fazer uma convocação local dessas pessoas para as segundas doses.".
Esta convocação resulta do intervalo da toma da segunda dose da vacina da Astrazeneca ter sido reduzido de 12 para oito semanas para garantir “mais rápida proteção” perante a transmissão de novas “variantes de preocupação” do vírus SARS-CoV-2, como a variante Delta.
O vice-almirante explicou que a informação passa por alertar as pessoas que já cumpriram o prazo de oito semanas para se dirigirem ao centro de vacinação a partir das 18:00, que terão a “segunda dose garantida”.
É isso que estamos a fazer a nível local, o agendamento do local e o chamamento do local, até porque são pessoas idosas que têm dificuldade em aceder a sistemas informáticos, apesar para os familiares poderem ajudar”, sublinhou.
A task-force está a contar com o auxílio das juntas de freguesia para que rapidamente as pessoas tomem a segunda dose da vacina.
Gouveia e Melo reconheceu que há “uma preocupação forte” com a variante Delta, lembrando que estudos no Reino Unido indicam que uma dose da vacina da Astrazeneca nessa variante tem só cerca de 30% de proteção.
A Direção-Geral da Saúde, “também ciente da situação”, encurtou a toma entre as duas doses para acelerar o processo de vacinação completa de “um público alvo que preocupa” que vai dos 60 aos 80 anos.
E, portanto, é nesse público alvo que estamos a tentar fazer um esforço para reduzir o intervalo das tais 12 semanas para oito semanas e isso já começou a ser feito”, assegurou Gouveia e Melo.
82% dos reclusos já estão vacinados
Mais de 80% dos reclusos já estão vacinados contra a covid-19, mas estão a ser feitos esforços para inocular rapidamente os que faltam, em duas prisões onde o processo estava mais atrasado.
Tirando alguns reclusos que já foram infetados e recuperados e têm cumprido as regras, já temos 82% de reclusos [vacinados]”, disse o coordenador da task-force.
Segundo Gouveia e Melo, é uma “grande taxa de cobertura. Se descontarmos os recuperados e alguns casos em que não estão elegíveis para vacinação estaremos quase nos 100 por cento” de reclusos vacinados.
Adiantou que há dois estabelecimentos prisionais “mais atrasados”, mas que estão a ser feitos esforços no sentido de os reclusos “serem rapidamente inoculados também”. Além da população prisional, o vice-almirante disse que há outros grupos que constituem uma preocupação, como os migrantes.