Será que iremos deixar de ouvir as expressões “matar dois coelhos de uma cajadada” e “pegar o touro pelos cornos”? A organização não-governamental PETA quer que assim seja e o partido português PAN associa-se à ideia, se bem que não pretenda avançar no Parlamento com qualquer iniciativa legislativa.
A ideia surgiu da PETA (People for the Ethic Treatment of Animals - Pessoas Pelo Tratamento Ético dos Animais), que lançou uma campanha para acabar com expressões que sugiram maus tratos a animais. Um dos exemplos dados foi "agarrar o touro pelos cornos", sugerindo-se que seja substituída por "agarrar a flor pelos espinhos".
Através da rede Twitter, a organização que criou a campanha já divulgou uma lista de provérbios alternativos para substituir aqueles que considera poderem perpetuar a violência sobre os animais: além das flores que substituem os touros, a expressão "matar dois coelhos de uma cajadada" poderá ser substituída por "alimentar dois coelhos com a mesma cenoura".
Em inglês, a frase que se emprega é "matar dois pássaros com uma pedra", que passará a "alimentar dois pássaros com o mesmo pão". Quanto à expressão que se refere às cobaias num laboratório, "ser o porquinho da Índia" é substituída por "ser o tubo de ensaio". Já o último animal que é "salvo" pela PETA é o cavalo. Se em inglês se diz "bater num cavalo morto", algo como "bater na mesma tecla", a organização pede que se troque por "alimentar um cavalo alimentado".
Words matter, and as our understanding of social justice evolves, our language evolves along with it. Here’s how to remove speciesism from your daily conversations. pic.twitter.com/o67EbBA7H4
— PETA: Bringing Home the Bagels Since 1980 (@peta) 4 de dezembro de 2018
Para a PETA, esta medida é um sinal de evolução. Na perspetiva desta organização, expressões como "matar dois coelhos de uma cajadada" (to kill two birds with one stone, no equivalente em Inglês) não são inofensivas, porque "perpetuam a violência sobre os animais”.
As palavras importam e à medida que a nossa consciência da justiça social evolui, a nossa linguagem evolui com ela”, argumenta a organização.
Sem certeza se o objetivo principal da campanha fosse causar polémica, isso acontece. Além de mãos cheias de comentários à publicação no Twitter, a PETA conseguiu ser notícia em alguns jornais como o The Guardian e o Washington Post.
Entre os vários comentários que a organização recebeu, houve até acérrimos defensores dos animais a manifestarem-se, como que argumentando “não ser por aí que o gato vai às filhoses”. Ou seja, na ótica de muitas pessoas há questões muito mais importantes a resolver.
Apesar das críticas, sobrtetudo nas redes sociais, um porta-voz da PETA falou ao site Insider, defendendo a campanha.
Como se tornou inaceitável usar linguagem racista, homofóbica, ou contra os incapacitados, as frases que trivializam a crueldade contra os animais vão desaparecer à medida que mais pessoas começam a apreciar os animais pelo que são e começam a ‘trazer os bagels para casa’ em vez do bacon" (uma outra referência a uma expressão em inglês explicada na tabela que a organização divulgou).
PAN adere
Por cá, o partido PAN (Pessoas - Animais - Natureza), liderado pelo deputado André Silva, aderiu à campanha lançada pela PETA, mas não pretende que a ideia seja consubstanciada em iniciativas legislativas, já que não pretende “condicionar a liberdade de expressão ou a criatividade.”
Há expressões que usamos desde pequenos e só anos mais tarde nos questionamos sobre o seu conteúdo", afirmou Francisco Guerreiro, coordenador da comunicação e membro da comissão política do PAN em declarações ao jornal Expresso, afirmando que esta campanha "é um sinal de evolução e a prova de que a sociedade civil, as organizações e as ONG se movimentam nesse sentido".