Ota custa dobro do que é preciso - TVI

Ota custa dobro do que é preciso

Ota

E só tem metade do tempo de vida possível. Quando abrir, outro terá de ser planeado. Cada passageiro irá custar 100 euros quando podia ficar por 50. Fechar a Portela demonstra falta de juízo do Governo, garante especialista

«Um aeroporto deve ter uma duração de vida de, pelo menos, 50 anos», afirma António Diogo Pinto, professor catedrático no Departamento de Engenharia de Minas e Georecursos, no Instituto Superior Técnico, um dos responsáveis pelo nascimento do Aeroporto de Macau, ao qual está ligado desde o seu planeamento.

A previsão em relação à vida da Ota fica pelos 20/25 anos. Ou seja, «quando for inaugurado, já será preciso pensar num novo aeroporto». Segundo as previsões do tráfego de passageiros, a Ota atingirá o máximo da sua capacidade em 2039. A previsão do Governo para a inauguração do Novo Aeroporto de Lisboa é em 2017. A Ota é assim uma «má solução» porque «não tem capacidade de expansão» e fica demasiado cara.

Contudo, este professor assume que um novo aeroporto para Lisboa é «essencial». Só que noutro local.

Só duas pistas e não dá para mais

De acordo com os planos, a Ota irá ter duas pistas e «não tem capacidade para mais», o que não tem lógica para este especialista. «Na margem sul», explica, «há espaço para aeroportos que podem expandir até 4 pistas».

Sem se querer resumir à zona de Rio Frio, que perdeu a luta com a Ota, o especialista diz ter encontrado mais três possíveis localizações fora da zona de reserva natural do estuário do Tejo.

Quanto aos custos, o professor lembra que «um aeroporto internacional moderno e eficiente tem como base uma boa plataforma logística». E, «na Ota, o espaço em redor é limitado. Isso aumenta o preço dos serviços» e de toda a máquina que compõe a plataforma aeroportuária.

Isto sem esquecer que, pelas suas contas ¿ feitas com base nos estudos da NAER ¿ a «Ota vai custar o dobro de qualquer aeroporto construído na margem sul. Considerando a totalidade dos custos, já com as infra-estruturas para transportes, o aeroporto vai custar mais dois mil milhões de euros, do que se fosse a sul do Tejo». Há um custo acrescido de cerca de 50/60 por cento.

«O investimento por passageiro na Ota ronda os 100 euros e na margem sul rondaria os 50 euros. Um aeroporto mais barato é mais competitivo e atrai mais passageiros». Na Ota isso não irá acontecer.

Mas a lista de chumbos à Ota não pára: a segurança e a operacionalidade são calcanhares de Aquiles do novo aeroporto. A Portela é «mais segura para os aviões do que a Ota».

Além do mais, António Diogo Pinto considera que a justificação ambiental para a escolha da Ota não é suficiente. «É a única fundamentação, que o Governo quer que justifique tudo, mas este novo aeroporto também envolve questões ambientais gravíssimas».

Um novo aeroporto não significa o encerramento da Portela. «De acordo com a minha visão», continua o professor, «qualquer Governo com cabeça não fecha a Portela; é um espaço precioso para a cidade».

E recorda o caso do Brasil que «há 20 anos quiseram retirar os aeroportos das cidades e fizeram novos nos arredores do Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte. Agora estão a investir nos aeroportos das cidades, porque reconheceram a sua utilidade».

O caso de Londres é outro bom exemplo de decisões para o especialista. «A cidade tem 5 aeroportos: Heathrow (para voos internacionais), Gatwick (também para voos internacionais), Luton (para voos low cost), Stansted (para voos low cost) e City (para negócios).

«Não se pode pedir sacrifícios e depois usar o dinheiro dos contribuintes para uma obra economicamente deficiente»,

que o professor considera não ter «legitimidade ética».

Um projecto «misto» seria «o ideal»: manter a Portela e construir uma ou mais plataformas aeroportuárias para voos low cost».
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