Educação sexual: Professores tornam-se confidentes dos alunos - TVI

Educação sexual: Professores tornam-se confidentes dos alunos

  • Marta Ferreira
  • 2 jun 2005, 17:27
Sala de aulas (Fotografia de Marta Sofia Ferreira)

REPORTAGEM: Aula leva miúdos de 14 anos a falar da puberdade e da menstruação. Rapazes confessam que «se excitam» com a Britney Spears. Alunos dizem gostar do tema da educação sexual porque «podem fazer perguntas na boa». Os risinhos são inevitáveis

Numa altura em que a educação sexual nas escolas anda a causar polémica, o PortugalDiário foi assistir a uma aula. Os temas abordados passam pela higiene pessoal e pela forma dos alunos se verem a si mesmos e aos outros. Hoje, o assunto mais focado foi o corpo e os problemas masculinos.

Os mais de 20 alunos de uma turma do oitavo ano da Escola Secundária c/ E.B. 2º e 3º Ciclos Aquilino Ribeiro, em Porto Salvo, com idades que variam entre os 13 e os 17 anos, entram na aula em alvoroço. Depois de todos sentados, a explicação do que vai tratar a aula é dada pelo professor Vítor Vares. Esta acção sobre sexualidade insere-se na aula semanal de Formação Cívica que integra o currículo de todos os alunos da escola.

Entre um risinho ou outro, relembram a matéria da aula anterior: falou-se de circuncisão e de masturbação. «Este aluno, por exemplo, não sabia o que era a masturbação. Perguntou na aula e estivemos a falar nisso», explica o professor, acrescentando que considera que estes alunos ainda não estão totalmente preparados para abordar com à-vontade temas como a orientação sexual ou a masturbação.

Depois de resumir a aula passada os alunos vêem um vídeo de cerca de dez minutos que mostra adolescentes a falarem da puberdade, da menstruação, das mudanças no corpo.

O professor vai interrompendo o filme e faz perguntas: «E tu, de que é que não gostas em ti»? Pés, rabo grande, dentes, são as respostas mais recorrentes. Os alunos respondem sem hesitações nem preconceitos.

O tema que se segue é a menstruação. Na televisão, uma jovem explica ao amigo como se usa um penso higiénico e outra mostra como se utiliza um tampão. Os risinhos são inevitáveis e entre os rapazes a opinião é unânime: ninguém gostava de ser rapariga e ter o período. Quando se fala nas mudanças do corpo durante a puberdade, a concordância é geral entre rapazes e raparigas: todos queriam já ser mais velhos.

O vídeo chega ao fim e é altura de abordar questões mais técnicas. Com o auxílio dos livros, um aluno de cada vez vai lendo a explicação dos órgãos sexuais masculinos e o professor vai explicando numa linguagem simples e clara e respondendo a questões. Fala-se em ejaculação, problemas na próstata e higiene pessoal.

Quando se refere a ejaculação, o tópico da excitação surge com naturalidade e os rapazes vão dizendo «o que os excita». A Britney Spears; a Beyonce, dizem alguns. «Não. Uma rapariga a dançar», diz um dos alunos mais velhos da turma. «Melhor que isso tudo é ver o Sexy Hot», interrompe outro.

É nesta altura que o professor tenta explorar a questão, dando uma dimensão mais relacional e amorosa à excitação sexual. «Tento sempre mostrar que a sexualidade não deve ser gratuita. Envolve sentimentos», explica Vítor Vares ao PortugalDiário.

O tempo já não chega para mais. A aula acaba e os alunos precipitam-se porta fora. Mas para a semana há mais, e com a promessa de que o próximo tema vai ser o corpo feminino. Já a caminho da saída, Nuno, de 14 anos, ainda confidencia ao PortugalDiário que gosta destas aulas: «Aprende-se muito e podemos perguntar coisas ao "prof", "na boa"».

A proximidade que o professor tem com os alunos, uma consequência do à-vontade com que fala com eles sobre estas temáticas, faz com que possa «individualizar as questões e chegar mais até eles». Este professor transformou-se, assim, num confidente dos seus alunos, alguém a quem contam algumas das suas intimidades e pedem conselhos.

Todos os alunos da Escola Aquilino Ribeiro têm uma aula de Formação Cívica por semana, sendo que cada aula tem a duração de 45 minutos. Além da educação sexual, abordam-se nestas aulas temas como os hábitos de alimentação, a prevenção rodoviária, a prevenção antitabagista e até mesmo a política.

Para realizar acções de educação sexual como a que o PortugalDiário assistiu hoje, os professores estão dependentes da sua iniciativa própria e dos materiais pedagógicos que lhes são enviados.
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