O Aleixo é «um inferno» - TVI

O Aleixo é «um inferno»

  • Portugal Diário
  • - Joana Pulido, Agência Lusa
  • 8 mar 2008, 18:11
O Bairro do Aleixo é um dos bairros mais problemáticos da cidade do Porto (Foto ESTELA SILVA /LUSA)

Neste bairro do Porto, o consumo e o tráfico de droga são assumidos como factos Milhares de famílias em barracas Bairros sociais: viveiros de delinquentes Setúbal tem centenas de clandestinos Solução é «demolir o bairro do Aleixo» Porto: há quem tenha medo de viver no Cerco Famílias recusam sair de bairro degradado Porto é uma das cidades da Europa com mais bairros

O incessante tráfico de droga, descarado e praticamente impune, caracteriza o bairro do Aleixo, um conjunto habitacional de cinco torres, cada uma com 13 pisos, onde «só gosta de morar quem está ligado ao negócio».

Situado na freguesia de Lordelo do Ouro, o Aleixo é um enclave, sendo considerado um dos bairros sociais mais problemáticos da cidade, designadamente pelo tráfico de droga que é ali feito às claras, junto à Torre 1.

Segundo dados recolhidos pela Lusa, no Aleixo habitam cerca de 1300 pessoas e quase dois terços desta população vive do rendimento de inserção social e o nível de instrução é muito baixo.

Na Torre 1 «toda a gente vive da droga»

O corrupio de pessoas à entrada daquela Torre 1 é comum, bem como a consequente deslocação dos toxicodependentes para um terreno baldio que se situa em frente àquele bloco, mesmo nas traseiras da escola local, conhecido como «sala de chuto».

«Temos a certeza que aqui [no Aleixo] há sempre droga, seja a que horas for, e desde que a PSP não apareça», afirmou à Lusa Ordep, toxicodependente há mais de 30 anos. Ordep não tem dúvidas em afirmar que, na Torre 1, «toda a gente, directa ou indirectamente, vive da droga», apontando esta condição para o facto de, aparentemente, nenhum morador se incomodar com aquele contínuo movimento.

Uma senhora aparentando ter mais de 60 anos e que preferiu o anonimato disse à Lusa que, ali, naquele «ambiente mau», há sempre represálias e que «só diz que gosta de viver no Aleixo quem está metido no negócio». «Se pudesse saía daqui, ia para outro lado«, referiu a mulher, que naquele ambiente criou dois filhos, conseguindo que nunca se envolvessem no mundo da droga.

Mira, que já mostra passar a meia-idade, referiu não querer sair do bairro pelo simples facto de ter um filho toxicodependente. «O meu filho anda na droga», disse, «tem 35 anos e consome desde os 18 e, estando eu por aqui, sempre vou estando perto dele e vou sabendo dele».

Para Mira, que passa «noites em claro» na esperança que o filho regresse a casa, bastava a Câmara do Porto pintar a casa, «ajeitar» a cozinha e a casa-de-banho para que habitar no Aleixo fosse «melhor».

Nas torres do Aleixo, construídas há mais de 30 anos num local com vista privilegiada para o Rio Douro, abundam parabólicas nas janelas, os azulejos exteriores existentes mostram o passar dos tempos, muitos dos vidros que acompanham a grande caixa de escadas estão partidos, são praticamente inexistentes paredes interiores sem grafitis, inscrições de amor ou rabiscos e os elevadores que servem os 13 pisos de cada uma das torres estão muitas vezes avariados.

«Isto nunca esteve tão mau como está», apontou uma moradora da Torre 5, que confessou sentir-se «triste» com o cenário do bairro.

Os moradores contactados pela Lusa apontam o ambiente que rodeia o bairro, designadamente o tráfico de droga, e a degradação das torres como principais motivos para desejar mudar de ares. «Isto é o purgatório» opinou uma outra senhora, que se encontrava com Mira no Centro de Dia local, um dos equipamentos sociais do bairro gerido pela Associação de Promoção Social da População do Bairro do Aleixo.

Para esta mulher franzina, há que ter pena dos ressacados, como o filho de Mira, uma vez que são vítimas daqueles que enriquecem à sua custa, os traficantes.

Uma outra senhora que preferiu também o anonimato habita na Torre 1 e considera o Aleixo um «inferno», já que «é uma pouca-vergonha o que ali acontece de noite e dia», onde permanentemente há pessoas a apregoar com saquinhos na mão.

A Norte Vida - Associação para a Promoção da Saúde troca cerca de 300 seringas por dia em apenas duas horas de trabalho realizadas no Aleixo. Para o responsável pela Norte Vida, Agostinho Rodrigues, a única diferença entre o Aleixo e os outros locais onde se trafica e consome drogas é a assunção dos factos: «Aqui é assumido o consumo e o tráfico de drogas».
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