«Cientistas estão nas lonas» - TVI

«Cientistas estão nas lonas»

«Bolseiros nas lonas» - Fotos de Patrícia Pires

Bolseiros acampam no Parlamento. Investimento na ciência não se nota

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«Queremos trabalhar», «Queremos pagar IRS», «Queremos Segurança Social» e «Investigar é trabalhar», diziam os cartazes que dezenas de bolseiros mostraram aos deputados esta segunda-feira à tarde, frente à Assembleia da República. Chegaram, montaram tendas, literalmente, e ali ficaram à espera de respostas. A concentração tinha por objectivo mostrar que os «cientistas estão nas lonas».

João Ferreira, da Associação de Bolseiros de Investigação Científica (ABIC), explicou ao PortugalDiário a escolha deste «momento» para a iniciativa. «Após o anúncio do Orçamento para 2007, da actual discussão no Parlamento, e do aumento de verbas para o Ministério da Ciência, pareceu-nos uma boa altura para questionar o Governo sobre a contradição entre as declarações de investimento e a situação vivida por quem faz investigação», afirmou.

«A forma como milhares de bolseiros vivem e trabalham são o desmentido da falada aposta», explica João Ferreira. Todos os bolseiros «gostavam de saber desse dinheiro a mais para a investigação, quanto vai ser utilizado para melhorar a vida de quem trabalha com a ciência».

Segundo dados 2003, reunidos pela ABIC, existem cerca de oito mil bolseiros em Portugal. E se nem todos sofrem na pele os atrasos no pagamento das bolsas «há outros problemas decorrentes do estatuto de bolseiro». Como, por exemplo, «viver à margem do sistema de segurança social. Numa altura que tanto se fala da sua sustentabilidade, há milhares de pessoas que gostavam de contribuir para o sistema geral, mas não podem porque estão há margem».

Ou seja, os bolseiros «estão descontentes e sentiram necessidade de o demonstrar», diz João Ferreira.

Mariano Gago anunciou recentemente não temer «a fuga de cérebros portugueses» para o estrangeiro, mas João Ferreira garante que «o ministro devia estar, porque nós estamos». E diz mesmo que o número de pessoas que vai para fora «tem aumentado, o que representa uma perda para o país».

O dinheiro não chega

Vera é bolseira há cinco anos na área da biologia e viu a sua bolsa reduzida sem grandes explicações. A maior parte do tempo é passado no Instituto de Psicologia Aplicada (ISPA), mas precisa de se deslocar à Universidade de Santa Cruz, na Califórnia, algumas vezes por ano, «para desenvolver trabalho de laboratório».

Antes ainda lhe pagavam uma ida para os Estados Unidos, mas agora tem um valor fixo que «se esgota numa só viagem». Para que o seu trabalho não perca qualidade garante que «as viagens são indispensáveis» e que assume as despesas.

Quando compara o apoio dado aos seus colegas na Califórnia diz que a diferença «é do dia para a noite».

Isabel Correia é bolseira há dez anos, na área de Reflorestação Florestal, e garante que «sem o apoio da família» ninguém consegue ser investigador em Portugal. Garante mesmo que a maioria dos bolseiros «trabalha por amor à camisola».

Esta bolseira conhece alguns casos que procuram apoio no estrangeiro e avança com o futuro das tais fugas de cérebros, que o ministro da Ciência não teme. «Se conseguimos brilhar lá fora é porque algo se passa no país, e não com os investigadores».
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