Imigração: «Maiuca» escolheu Portugal para estudar - TVI

Imigração: «Maiuca» escolheu Portugal para estudar

Maiuca em Portugal

Cabo-verdiano nunca se sentiu vítima de discriminação e são «raros» os casos de que tem conhecimento

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Admir Marques é um cabo-verdiano de 28 anos que está em Portugal há cinco. Veio para estudar na universidade Portucalense e hoje é o presidente da Associação de estudantes cabo-verdianos em Portugal.

Maiuca, como é conhecido entre amigos, é proveniente da ilha de Santiago, uma das maiores de Cabo Verde, onde se situa Praia, a capital do país. Concluiu os seus estudos no ensino secundário em 1999 e desde então não parou de explorar profissões e de coleccionar experiências.

Começou por trabalhar numa empresa de segurança, onde era responsável pela parte informática. Mas, Maiuca ambicionava voos mais altos e seguiu-se a candidatura a um emprego como comissário de bordo da, na altura, única companhia aérea cabo-verdiana a TACV (Transportes Aéreos de Cabo Verde).

Maiuca não foi o primeiro da família a vir para Portugal

«Sempre que um voo fazia escala em Lisboa aproveitava para conhecer mais um bocadinho. Mas quando vim para o Porto notei uma grande diferença, era uma cidade mais pequena e mais fácil de nos deslocarmos, gosto mais do Porto do que de Lisboa», confessou.

«A vida de comissário de bordo é boa quando se é jovem mas quando pensamos um dia em constituir família é muito complicado porque estamos sempre em viajem e pouco tempo em casa», o que levou Admir Marques a procurar outras soluções.

Maiuca é o mais velho de três irmãos, mas não foi o primeiro a assentar raízes em terras lusitanas. O irmão de Admir Marques já estava em Portugal a tirar um curso, curiosamente também informática de gestão, quando Maiuca decidiu voltar às cadeiras da escola.

Mas porquê informática de gestão e porquê o Porto? Marques explicou que muitos dos protocolos que existem com Cabo-Verde são feitos pela universidade Portucalense e o número de vagas também é bastante convidativo. A somar a tudo isto o facto de já ter um irmão em Portugal e alguma experiência acumulada foram factores decisivos.

Nunca se sentiu vítima de discriminação e são «raros» os casos de que tem conhecimento

As maiores dificuldades em Portugal são financeiras. «Passei de uma situação em que já ganhava o meu próprio dinheiro para voltar a estar dependente dos meus pais e essa é sempre uma situação muito frustrante».

Maiuca explica que nunca foi vítima de discriminação em Portugal porque os que o precederam já tinham aberto caminhos. Mesmo enquanto presidente da associação de estudantes são muito «raros» os casos de discriminação de que teve conhecimento.

«Eu cheguei a Portugal numa época em que as coisas já tinham mudado muito. Antigamente à Portucalense só chegavam os filhos dos ricos, porque é uma universidade privada, mas com estes protocolos são cada vez mais os cabo-verdianos em Portugal a estudar e isso faz com que as mentalidades comecem a mudar».

Quando só se vai a «casa» uma vez por ano e muitos até menos as saudades atingem a dimensão dos quilómetros que separam os dois países. Maiuca, como muitos outros cabo-verdianos e muitos outros imigrantes, recebem encomendas que trazem lá dentro um pedacinho de «casa».

«Nas ocasiões especiais reunimo-nos em casa uns dos outros e partilhamos as coisas que nos mandam de casa. Por exemplo, na altura da Páscoa os nossos familiares enviam-nos os alimentos que são tradição comermos na 'quarta-feira de cinzas'. O peixe seco com couves e para a sobremesa o cuscus cabo-verdiano e mel».

Depois de Admir Marques também a irmã mais nova veio para Portugal para poder estudar. O irmão já voltou para Cabo-Verde e ajuda na empresa da família,mas já veio ao Porto para fazer uma pós-graduação. Maiuca confessa que estas ausências têm sido duras especialmente para a mãe que não contém as lágrimas quando fala com os filhos ao telefone.

Quando o Portugal Diário questionou Admir Marques se quer voltar a casa, este foi peremptório em afirmar que sim porque quer ajudar o país a progredir.
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