Santa Maria: causa da cegueira foi tóxica, disse médica - TVI

Santa Maria: causa da cegueira foi tóxica, disse médica

Casos de cegueira no Santa Maria: acusados vão a julgamento

Oftalmologista do hospital está convicta de que não foi administrado Avastin aos seis doentes

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Uma oftalmologista do Hospital de Santa Maria afirmou, nesta quinta-feira, perante o tribunal, estar convicta de que é de origem tóxica a causa da cegueira total ou parcial dos seis doentes, verificada naquela unidade em julho de 2009.

Mun Yueh de Faria, que hoje depôs na 7.ª vara Criminal do Tribunal de Lisboa, no âmbito do processo que ficou conhecido como «O caso dos cegos de Santa Maria», garantiu ter ficado logo com a «convicção clínica» de que o problema daqueles doentes tinha origem «tóxica», afastando a possibilidade de lhes ter sido administrado Avastin (bevacizumab).

«O que estava em causa era uma infeção gravíssima», disse a médica, citada pela Lusa, sobre os sintomas apresentados por aqueles pacientes na semana posterior à intervenção cirúrgica aos olhos a que foram submetidos a 17 de julho de 2009, garantindo que teve logo «a certeza de que não havia oftalmite de origem bacteriana, dado não existir pus no interior dos olhos dos doentes».

Em causa neste processo estão seis pessoas que ficaram total ou parcialmente cegas depois de lhes terem sido administradas injeções intraoculares de Avastin, que, supostamente, teriam sido trocadas.

A especialista Mun Yueh de Faria sustentou as suas convicções com os resultados de colheitas intraoculares que realizou aos pacientes, por duas vezes - a 21 e a 24 de julho -, destinadas a detetar qual o agente infeccioso e a eventual presença de químicos.

Esclareceu ainda que as colheitas foram enviadas para o Laboratório Clínico Joaquim Chaves, que trabalhava com o hospital e dava «respostas mais fiáveis», tendo os resultados da segunda colheita apresentado «um nível alto de angiogénicos».

«O Avastin é um anti-angiogénico. Se lá estivesse Avastin o nível de angiogenes seria baixo, mas o nível era alto», argumentou.

Mun Yueh de Faria contou também ao tribunal ter recebido um telefonema anónimo de uma «mulher que não estava calma, mas não parecia querer disfarçar a voz», que lhe disse que o que o que tinha administrado aos pacientes fora «cavalinha».

A autora da chamada pediu apenas para ser identificada como sendo um homem, sob pena de lhe «limparem o sebo», disse ainda a médica, quando questionada pelo advogado de Hugo Dourado.

Sem conseguir precisar a data do telefone, Mun Yueh de Faria disse ter estranhado que tivesse ocorrido poucos dias depois da segunda colheita, sublinhando que, apesar de não terem dado «crédito ao telefonema», ficou «apreensiva» uma vez que um colega de farmácia a informara de que a cavalinha é «um produto natural, mas tóxico».

A médica contou ainda ao Tribunal ter informado os superiores e a administração do hospital do telefonema e de ter solicitado que fosse feita uma terceira colheita, que terá sido realizada a 29 de julho, mas cujos resultados desconhece.

Havia «muito segredo» em torno do caso, contou Mun Yueh de Faria, pelo que «só fazia» o que lhe mandavam.

O caso tem como arguidos o farmacêutico Hugo Dourado e a técnica de farmácia Sónia Baptista, acusados de seis crimes de ofensa à integridade física de forma negligente.

Na acusação, o Ministério Público considerou que a troca de medicamentos «terá sido provocada por falta de cumprimento dos deveres impostos pelo manual de procedimentos».

O julgamento prossegue durante a tarde, estando prevista a audição de cinco técnicos de diagnóstico e terapêutica de Santa Maria.
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