«O meu sonho é ser traficante» - TVI

«O meu sonho é ser traficante»

(Foto de Arquivo)

PSP preocupada com aumento no número de menores usados como «correios de droga». Há crianças a ser «agarradas» ao vício para depois servirem os senhores da droga

A PSP registou, em 2005, um aumento no número de menores usados como «correios de droga». A situação ganhou expressão a partir de 2001 e daí para cá tem vindo sempre a crescer.

Os últimos números, referentes a 2005, divulgados ao PortugalDiário por fonte da PSP, revelam um aumento de 40 casos no número de menores usados para tarefas de vigia, transporte, apoio a traficantes e mesmo venda ao público. A mesma fonte adianta que, em 2004, o número de menores usados nestas tarefas situava-se na ordem das dezenas, pelo que um aumento de 40 casos, em apenas um ano, ganha ainda maior expressão.

De acordo com o chefe da Divisão da Prevenção da Criminalidade da Direcção Nacional da PSP, Luís Elias, a situação explica-se facilmente: «Os traficantes conhecem a lei e sabem que um menor é inimputável. Usam-nos para as tarefas mais expostas, logo mais arriscadas, por saberem que nada acontece», explicou o superintendente ao PortugalDiário, à margem da Tertúlia promovida pelo Sindicato dos Magistrados do Ministério Público sobre «Menores - A Responsabilidade do Estado», quinta-feira à noite, em Lisboa.

«Trata-se de uma mão-de-obra barata. Estes menores não resistem ao dinheiro fácil», explica Luís Elias. Mais: alguns menores são «agarrados» à droga para depois a venderem a troco de uma porção para consumo próprio.

«Há crianças de oito anos a serem iniciadas na droga para, depois de agarradas, funcionarem como correios de droga». Quem o garantiu, durante a Tertúlia promovida pelo Sindicato, foi a advogada Francisca Mascarenhas, ex-residente no Bairro da Cova da Moura, na Amadora. Uma denúncia que o superintendente confirma. A educadora do centro social 6 de Maio, Paula, não esquece a resposta que recebeu de alguns menores à pergunta clássica o que queres ser quando fores grande?: «Quando for grande quero ser traficante de droga»,!

Aumenta número de menores com armas de fogo

A PSP registou, ainda, durante o ano de 2005, um «aumento preocupante» no número de menores apanhados com armas de fogo, referiu o superintendente, acrescentando que se, por um lado, os dados da PSP, relativos a 2005, apontam uma redução da criminalidade, por outro lado, verificou-se um aumento de 6,8 por cento na delinquência juvenil, envolvendo, sobretudo, menores entre os 12 e os 15 anos.

Fonte da PSP refere que esta polícia registou, em 2005, mais 50 casos de menores com armas de fogo, em comparação com o ano anterior. Um aumento significativo, tendo em conta que as cifras de 2004 não ultrapassavam as dezenas. «Estes jovens usam, sobretudo, armas adaptadas, as 6,35, e armas de caça furtadas a que depois cerram os canos». Durante o ano passado registaram-se: 2250 crimes contra o património (essencialmente furto no interior de veículo), 490 crimes contra as pessoas (roubos por esticão e agressões) e crimes de condução sob o efeito do álcool (pouco mais de 100). Todos envolvendo menores.

O responsável da Divisão de Segurança da PSP adianta que, mais de metade destes jovens são reincidentes. A outra face da moeda é o falhanço da reinserção social destes menores. Sem hesitações, a actual presidente do Instituto de Reinserção Social, a magistrada Leonor Furtado, admitiu, no encontro promovido pelo Sindicato do Ministério Público, aquilo que todos já advinhavam: «As percentagens de sucesso da reinserção social de jovens são muito pequeninas». E dá exemplos: «muitas vezes os jovens terminam o cumprimento da medida tutelar e deixam o centro educativo sem concluírem os cursos pré-profissionais». Sem formação, sem trabalho e sem acompanhamento para lá das portas do centro educativo, não é difícil imaginar o desfecho destas histórias. . .
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