Filho de Carlos Martins trouxe mais dadores, mas não mais transplantes - TVI

Filho de Carlos Martins trouxe mais dadores, mas não mais transplantes

Carlos Martins (José Sena Goulão/Lusa)

Mediatismo do caso beneficiou o registo nacional de dadores de medula óssea e responsáveis esperam que se comece a traduzir num aumento da transplantação

Portugal tem mais de 300 mil dadores de medula óssea, segundo os últimos números oficiais, de maio de 2012, que consagram o segundo lugar europeu, atrás da Alemanha, nos países com mais dadores por milhão de habitantes. Só o caso do filho do jogador de futebol Carlos Martins, que recebeu entretanto um transplante, terá trazido cerca de 50 mil novos dadores.

«O registo nacional de dadores de medula óssea beneficia destes casos mediáticos, que voltam a lembrar as pessoas da importância da doação e chamam mais gente que de outra forma não se disponibilizaria», afirmou ao tvi24.pt Helena Alves, diretora do Centro de Histocompatibilidade do Norte (CHN), no âmbito do Dia do Transplante, celebrado esta sexta-feira.

De acordo com os dados que o tvi24.pt recolheu, durante o ano de 2011 foram colhidas 106 células para transplantes de medula óssea, 79 para o estrangeiro e 27 para Portugal, numa média de cerca de 8,8 por mês. Nos primeiros cinco meses de 2012, foram realizadas 53 colheitas, 42 para o estrangeiro e 11 para Portugal, aumentando a média para 10,6 por mês. «Este ano vamos colher mais, talvez 120 ou 130 até ao fim do ano», adiantou o presidente do Instituto Português do Sangue e da Transplantação, Hélder Trindade.

Apesar de os dadores e de as colheitas estarem a aumentar, o reflexo positivo no número de transplantes ainda não se verifica. Em 2011, o total de transplantes com dador não aparentado, como no caso de Gustavo Martins, foi de 68 (41 realizados com dador estrangeiro e 27 com dador do registo nacional), ou seja, cerca de 5,7 transplantes por mês. Entre janeiro e maio de 2012, foram realizados 20 destes transplantes de medula óssea (11 com dadores nacionais e nove internacionais), tendo a média mensal descido para os quatro.

«O tempo ainda é curto para avaliar esse reflexo. Ao longo do ano a distribuição é irregular, pelo que o facto de nos primeiros meses o número de transplantes ter diminuído não significa que chegaremos ao fim do ano com essa média», explicou Helena Alves.

A responsável do CHN revelou que «a média de pedidos está a ser superior à do ano passado», pelo que, depois de as compatibilidades serem avaliadas, a curto prazo, espera que o número aumente. «Nada faz prever que haja menos transplantes este ano», completou.

Com a passagem do mediatismo sobre o caso do filho de Carlos Martins, a também membro da direção da Sociedade Portuguesa de Transplantação não acredita na diminuição do número de dadores. «Os casos mediáticos são acompanhados por um trabalho de educação nas escolas e universidades. A informação que prestamos não deixa esmorecer esses casos. Claro que temos picos de doação com estes casos, mas há um trabalho sustentado».

Segundo a diretora do CHN, a taxa de desistência de doação é «apenas de cerca de um por cento». «Os voluntários respondem quase sempre, fazem uma nova colheita quando são contactados devido ao surgir de uma compatibilidade e acabam por doar», elogiou, acrescentando que há mesmo casos de dadores que pedem para a colheita ser realizada ao fim de semana ou que tiram férias para não faltarem ao emprego, mas também não deixarem de ajudar.

Helena Alves garante que os novos voluntários que surgiram durante o caso de Gustavo Martins vão ficar no registo até aos 55 anos, a não ser que surja alguma «contraindicação», como uma doença que afete a doação. «Este caso vai ter repercussão durante muitos anos. Se há uma certeza que estas famílias que se mobilizam podem ter é que se essa campanha não servir para elas, serve para outras famílias certamente», concluiu, destacando ainda os casos de envolvimento local de autarquias e escolas, que produzem «outros picos localmente muito produtivos» de doação de medula óssea.
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