Pioneiro dos transplantes garante que o dinheiro não importa - TVI

Pioneiro dos transplantes garante que o dinheiro não importa

Crianças sem transplantes hepáticos

Linhares Furtado não está preocupado com os números e acredita que o próximo ano pode ser «muito melhor»

O autor do primeiro transplante em Portugal acredita que a redução dos incentivos não contribuiu para a diminuição de 22 por cento dos transplantes realizados este ano. «O aspeto financeiro não tem qualquer relevância. Toda a gente continua a trabalhar ao mesmo ritmo», afirmou Alexandre Linhares Furtado ao tvi24.pt, no âmbito do Dia do Transplante, celebrado esta sexta-feira.

O pioneiro dos transplantes defende que estamos a assistir a uma «questão episódica», que «não é preocupante». «Mesmo quando a curva global dos transplantes era ascendente, de vez em quando havia um decréscimo», justificou, acrescentando que é possível que o próximo ano seja «muito melhor».

Linhares Furtado aponta a culpa a «fatores ocasionais e imprevisíveis», como o «decréscimo nos acidentes na estrada» e a maior fatalidade destes, que «não possibilita a recolha de órgãos no local». Também o facto de as lesões neurológicas se terem tornado a «maior fonte de órgãos» contribui para um «maior número de não utilização dos órgãos recolhidos».

Os transplantes renais, dos quais foi pioneiro, em 1969, são os que mais estão a cair em 2012 (foram realizados menos 73 entre janeiro e junho, em relação aos mesmos meses do ano passado). «Não vejo nenhuma razão especial para isso. Talvez por serem em número maior, em geral, o reflexo também seja maior», explicou.

O médico concorda que a sensibilização dos dadores vivos, objetivo da nova campanha da Sociedade Portuguesa de Transplantação, «é muito importante». «A transplantação com dadores vivos tem vindo a aumentar e não só de pais para filhos. Há cada vez mais entre cônjuges».

Para Linhares Furtado, a aposta deve ser em «campanhas de influência transparente», que sirvam para informar os portugueses «sobre o baixo risco de doação». «Risco há sempre, porque em qualquer intervenção cirúrgica há. Mas o risco fatal, pelo menos no rim, é raríssimo», assegurou.

Mais de 40 anos após o primeiro transplante em Portugal, o cirurgião está «muito satisfeito com a evolução» da transplantação, sublinhando que «as nossas médias de sobrevivência são iguais às dos melhores centros estrangeiros».

Linhares Furtado recorda que o primeiro transplante renal foi um «grande desafio», numa altura em que «o país estava bastante atrasado nessa área», e aponta que, para quem gosta de cirurgia, «a área da transplantação é lindíssima».

O médico que recebeu o Prémio Nacional de Saúde 2011 e que na altura criticou a «ingerência» do poder político nas direções dos serviços hospitalares continua a alegar que «não pode ser a burocracia do Estado a definir quem é ou não contratado, e muito menos a contratar o mais barato através de uma agência de fornecimento de médicos». Alexandre Linhares Furtado acredita que, conforme «ficou bem sublinhado durante a greve dos médicos» da semana passada, «é a qualidade da prática da Medicina que está em causa» e, por isso, defende os concursos públicos para que «os mais qualificados fiquem com os lugares».
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