«Um europeu consome 3840 litros de água por dia» - TVI

«Um europeu consome 3840 litros de água por dia»

A Quercus diz que «há dificuldades na alteração efetiva dos comportamentos» de consumo de água. Reflexões a propósito do dia internacional da biodiversidade

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«Um europeu consome 3840 litros de água por dia», números da Agência Europeia do Ambiente. Carla Graça, vice-presidente da direção nacional da Quercus, explica-nos que há um conceito de «água virtual», que engloba toda a água que bebemos, os produtos e os serviços, porque «a água é essencial à vida, para tudo». Se o leitor não está convencido, os números não enganam: uma folha de papel A4 precisa de «10 litros de água para ser produzida», já uma maçã necessita de «70 litros», e para fabricar umas calças de ganga são precisos «10 500 litros de água».

«A água é vital para a vida na Terra e para as populações humanas, determinando o seu modo de vida. Providenciar água com qualidade para as necessidades das pessoas em todo o mundo é um grande desafio ao desenvolvimento sustentável», é a mensagem da ONU.

E foi nesta década que se conseguiu um feito histórico nesta área, em grande parte graças ao trabalho de uma portuguesa. A 28 de Julho de 2010, a ONU reconheceu o direito à água e ao saneamento básico como Direito Humano. A jurista Catarina de Albuquerque explicou à tvi24.pt a alegria da conquista .

A associação ambiental Quercus entende que já há uma «perceção» da necessidade de poupar água, mas que outra coisa «é a alteração efetiva dos comportamentos e, aí, «há dificuldades», porque estamos a falar de «hábitos enraizados». A reflexão de Carla Graça sobre o estado da água em Portugal, na semana em que se comemorou o dia internacional da biodiversidade dedicado à água. «Eficiência», «fiscalização» e «monitorização» são as palavras-chave para a preservação deste recurso natural.

A dirigente da Quercus conta que a «água, na generalidade dos custos das famílias, tem um preço muito baixo», e que os consumidores não têm a noção dos metros cúbicos de água que gastam porque pagam pouco, o que não significa que seja justo, à luz das assimetrias entre interior e litoral, em que nas zonas com maior densidade populacional, «o preço dilui-se na quantidade».

Com o assunto da privatização dos serviços de águas na ordem do dia (a Quercus organizou um seminário no dia 10 precisamente para debater este tema), a dirigente defende que «aquilo que se está a pagar deve ser claro» e entende que «a tarifa deve refletir a importância» da água, espelhando «os custos e a escassez do bem» e que, por isso, «os consumos mais abusivos devem ser penalizados», sem prejuízo, por exemplo, para as famílias numerosas.

Mas, é fundamental não esquecer que «a água potável é um bem escasso» e «cada vez mais vamos precisar de tratamentos de terceira e quarta geração» para tratar a água, poluída inclusive com medicamentos usados por humanos, e também na pecuária e na agricultura.

Carla Graça chama, no entanto, a atenção para outras perdas para além daquelas que vão pelo cano a baixo quando não fechamos a torneira enquanto lavamos os dentes. As perdas da própria rede. «Cerca de 40 por cento do volume total de água procurado no setor urbano é desperdiçado» e «30 por cento» no setor industrial, de acordo com dados do Instituto da Água. Na distribuição dos reservatórios até ao consumidor final «há muitas perdas» e também no «tratamento». Ou seja, só «70 por cento» dos esgotos são tratados, pelo que há um universo de dejetos urbanos e agropecuários que não recebem qualquer tratamento. Se pensarmos que «uma porca polui tanto como oito pessoas», é fazer as contas. A fiscalização de descargas ilegais tem aqui um papel importante.

Segundo dados do Instituto da Água de 2011, apenas «um terço dos rios tinha boa qualidade». Agora nem isso se sabe, já que «as redes de monitorização da qualidade não estão a funcionar», porque «não há dinheiro».

Carla Graça conclui que há, portanto, «muito, muito a fazer» e que «nós temos que cuidar dos nossos rios» e «devolver-lhes a água nas melhores condições». E isso até reduz custos, porque assim não precisam de tantos tratamentos.
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