Face Oculta: corrupção com prendas é «estapafúrdia» - TVI

Face Oculta: corrupção com prendas é «estapafúrdia»

Jorge Sampaio

Jorge Sampaio não duvida do carácter de José Penedos e diz que é «um amigo à prova de bala»

O ex-presidente da República Jorge Sampaio considerou esta sexta-feira «estapafúrdia» a possibilidade de José Penedos, ex-presidente da REN e arguido no processo «Face Oculta», se deixar corromper com a oferta de presentes de Natal.

«Não posso deixar de sorrir», afirmou o antigo chefe de Estado, perante a pergunta colocada pelo advogado do ex-presidente da REN, sobre o recebimento de prendas de Natal, uma das questões de que é acusado José Penedos.

Jorge Sampaio, que passou hoje pelo tribunal de Aveiro para testemunhar a favor de José Penedos, admitiu ter também recebido inúmeros presentes no tempo em que esteve à frente da Câmara de Lisboa e, mais tarde, como Presidente da República.

Só durante os anos que esteve em Belém, Sampaio disse ter recebido 760 presentes, fora os presentes de Estado, de acordo com um inventário que o próprio mandou fazer quando terminou o segundo mandato.

O ex-presidente da República realçou ainda que não ligava os presentes a quem os tinha oferecido e garantiu que nunca se sentiu condicionado por isso.

«Não tenho nenhuma dúvida em aceitar um presente de Natal, embora ache que a situação mudou, a avaliar pelas notícias que se lêem», adiantou, confessando que ainda hoje há pessoas que lhe mandam cabazes de Natal.

Antes de iniciar o seu depoimento, a testemunha fez questão de fazer uma declaração preliminar para explicar a sua presença no tribunal, em vez de depor por escrito, uma prerrogativa que o cargo de Conselheiro de Estado lhe confere.

«Neste caso, resolvi estar presente porque não venho fazer abonação. Estou aqui por causa do caráter de José Penedos», afirmou o ex-presidente da República, adiantando ter uma «enorme estima e consideração» pelo arguido, um amigo «à prova de bala», como sublinhou.

Jorge Sampaio referiu ainda que o ex-presidente da REN preocupava-se com o «excesso de exuberância» do seu filho Paulo Penedos, coarguido no processo, o que o levou a recordar uma pergunta que fez várias vezes ao pai: «quando é que este rapaz assenta jogo».

«Essa agitação não era algo que deixasse o pai sossegado», adiantou a testemunha, acrescentando que José Penedos «tinha uma carreira profissional prestigiante de grande rigor, e gostava que o filho seguisse o mesmo caminho».

O advogado de José Penedos quis saber se Sampaio achava que José Penedos podia comprometer os traços do seu caráter para ajudar o filho, ao que este respondeu que lhe era «muito difícil» compreender a pergunta, por ser tão contraditória com a pessoa em causa.

«José Penedos tinha um código de conduta muito rigoroso», afirmou Jorge Sampaio, acrescentando que o ex-presidente da REN foi sempre «um exemplo de grande dignidade moral e exigência».

À saída da sala de audiências o ex-presidente da República recusou-se a responder a perguntas dos jornalistas.

Além de Jorge Sampaio, o coletivo de juízes que está a julgar o caso também ouviu hoje o antigo secretário de Estado do Tesouro de José Sócrates Carlos Costa Pina, outra das testemunhas de José Penedos.

O ex-presidente da REN arrolou ainda como testemunhas o ex-ministro das Finanças Eduardo Catroga e o ex-diretor geral de energia José Escada da Costa que serão ouvidos nos dias 12 e 13, respetivamente, e a sua antiga secretária pessoal que já foi ouvida no tribunal.

José Penedos foi acusado de dois crimes de corrupção e dois de participação económica em negócio, por casos que envolvem também o seu filho, Paulo Penedos, e negócios com o empresário da sucata Manuel Godinho, o principal arguido no caso.
Continue a ler esta notícia