O julgamento de Guilherme Páscoa, acusado de ter matado a irmã Ana Bívar, antiga subdiretora do Igespar, começou esta terça-feira em Évora com o relato emotivo de uma irmã, também ferida, dos pormenores do homicídio, na ausência do arguido.
Guilherme Páscoa, de 42 anos, em prisão preventiva no Hospital Prisional de Caxias, remeteu-se ao silêncio após ouvir a acusação de dois crimes de homicídio qualificado de duas irmãs, um consumado e outro na forma tentada, incorrendo na pena máxima de 25 anos de prisão.
O caso remonta a 30 de maio de 2012, em Évora, com Guilherme Páscoa a ser acusado de ter matado à facada a irmã Ana Bívar, 51 anos, então subdiretora no Instituto de Gestão do Património Arquitetónico e Arqueológico (Igespar) e mulher do deputado do PSD António Prôa, e de ter tentado assassinar uma outra irmã, Marta Páscoa, de 44, após as ter atropelado, devido a questões relacionadas com partilhas e uma herança desta família do Alentejo.
Hoje, no Tribunal Judicial de Évora, Marta Páscoa solicitou prestar declarações na ausência do arguido e irmão, ao que o presidente do coletivo acedeu, apesar da oposição da defesa.
Durante o interrogatório, Marta Páscoa chorou várias vezes ao recordar os pormenores dos crimes, em particular, do assassinato da irmã, que, na altura, disse, «estava a falar ao telemóvel com o marido», o deputado social-democrata António Prôa.
«Acabamos de ser atropeladas pelo meu irmão», terá dito Ana Bívar ao marido, segundo o relato da irmã, que ficou com «lesões» e «psicologicamente afetada» na sequência dos crimes.
Marta Páscoa enumerou os bens da família e confirmou a existência de uma procuração que o arguido tinha para representar a mãe em negócios familiares, que foi revogada dias antes dos crimes.
Segundo disse, três frações da Herdade da Lezíria, em Alcácer do Sal, foram vendidas entre 2004 e 2011, por um valor total de 860 mil euros, pelo irmão, com recurso à procuração da mãe.
Relatou ainda que era o irmão quem geria os recursos financeiros da mãe e que esta, «desde o verão de 2011, não tinha dinheiro», tinha a «eletricidade cortada por falta de pagamento» na casa onde vivia no centro de Évora e apresentava «falta de alimentação».
Durante a manhã de hoje, foram também interrogados três inspetores da Polícia Judiciária que estiveram envolvidos nas investigações.
O marido da vítima, António Prôa, que se constituiu assistente, tal como Marta Páscoa, recusou prestar declarações aos jornalistas, enquanto o advogado de defesa, Manuel Luís Ferreira, apenas disse que o arguido «está medicado» e «aparentemente calmo», afastando avançar com a sua estratégia de defesa.
Guilherme Páscoa, figura do meio equestre e que terá matado a irmã Ana Bívar com um golpe na jugular, não requereu a instrução do processo.
O homem terá esfaqueado as duas irmãs, após as ter atropelado, tendo uma delas, Ana Bívar, acabado por morrer no Hospital de Évora, enquanto Marta Páscoa sofreu ferimentos ligeiros e teve alta hospitalar horas depois.
Após o crime, no Bairro do Granito, nos arredores de Évora e perto da casa de Marta Páscoa, o alegado homicida encetou fuga, mas entregou-se no dia seguinte num posto da GNR na zona de Alenquer, a sua área de residência.
Guilherme Páscoa mora na zona de Alenquer, Ana Bívar morava em Lisboa e a outra irmã ferida reside no bairro do Granito, em Évora, onde ocorreram os crimes.
O atropelamento, seguido de esfaqueamento, ocorreu na rua Dr. César Baptista, no Bairro do Granito, na periferia da cidade, onde o suspeito esperou, alegadamente, cerca de três horas no interior de um automóvel.
Évora: «Acabamos de ser atropeladas pelo meu irmão»
- Redação
- LF
- 12 mar 2013, 15:18
Julgamento de acusado de ter matado irmã começa com relato emotivo dos crimes
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