Reportagem: o dia em que o líder dos Hammerskins tomou notas em tribunal - TVI

Reportagem: o dia em que o líder dos Hammerskins tomou notas em tribunal

Na primeira manhã, o tribunal apenas ouviu um dos agentes da PJ que investigaram o caso, inquirido pelo Ministério Público

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Assim que entraram na sala de audiências para a primeira sessão do julgamento, esta quinta-feira de manhã, Mário Machado e os outros sete arguidos cumprimentaram-se efusivamente, com abraços e beijos na cara. Por causa disso, e ainda antes do início propriamente dito da sessão, um dos elementos do colectivo de juízes pediu aos arguidos que se privassem desses cumprimentos.

A primeira manhã do julgamento foi inteiramente ocupada com a leitura da acusação e a audição, pormenorizada e demorada, da primeira testemunha - o inspector da Direcção de Combate ao Banditismo (DCCB) Paulo Costa, inquirido pelo Ministério Público.

Enquanto ouvia o inspector recordar os passos da investigação e corroborar a acusação, Mário Machado acenava com a cabeça e não resistia a alguns comentários, tendo mesmo sido advertido pela juíza presidente do colectivo, Susana Fontinha. Outros arguidos agiram do mesmo modo e foram também advertidos.



Mário Machado e alguns dos outros arguidos tiraram várias notas, enquanto o inspector falava. O primeiro a tomar notas foi mesmo o líder dos Hammerskins. Como estava a partilhar o papel e a caneta com outro arguido, a juíza presidente do colectivo viu-se obrigada a advertir os arguidos que não eram permitidas trocas de papéis e que, se quisessem, seria dado um papel e uma caneta a cada um para tirarem notas. Vários arguidos mostraram interesse em tomar notas do depoimento do inspector da PJ.



O inspector recordou que a investigação dos casos de violência relatados na acusação começou na sequência de escutas que estavam a ser feitas por causa da suposta rivalidade entre os Hammerskins e os Hells Angels. As escutas estavam a acontecer porque, de acordo com o inspector, «havia uma forte ameaça de ocorrência de incidentes graves» no Algarve entre o movimento Hammerskins de Portugal e o grupo de motards Hell Angels. O que os inspectores ouviram acabou por conduzir à investigação dos episódios que terão ocorrido entre os finais de 2008 e o início de 2009.



Enquanto o inspector falava, alguns dos arguidos olhavam para trás, para a audiência, quer na direcção dos familiares e amigos que assistiam à sessão, quer na direcção dos jornalistas.

Cortes no pénis com um serrote



De acordo com a acusação, corroborada pelo depoimento do agente da PJ e sobre a qual nenhum dos arguidos se quis pronunciar em tribunal (tendo alguns remetido declarações para o fim da prova testemunhal), Mário Machado «chefiou um grupo de indivíduos que, actuando de forma estável, reiterada, concertada e em comunhão de esforços, sequestrava e assaltava indivíduos, algumas vezes com a promessa prévia de venda de produtos estupefacientes».

Ainda de acordo com o despacho de acusação, o grupo subtraía às vítimas dinheiro e os automóveis, que depois seriam vendidos a um stand no Lourel, em Sintra, para serem desmontados e vendidos à peça.



Uma das vítimas foi baleada num joelho e foi assistida no Tribunal de Faro, tendo-lhe sido extraída uma bala de 9mm (munição própria das armas dos agentes de segurança). Outra das vítimas terá sido agredida durante várias horas e torturada, com cera quente e cortes superficiais, feitos com um serrote, em várias partes do corpo, incluindo no pénis.

Defesa espera «julgamento longo»



O advogado de Mário Machado, José Manuel Castro, disse aos jornalistas que espera um «julgamento longo», no caso em que o seu constituinte e mais sete arguidos são acusados de vários crimes, entre eles associação criminosa, extorsão, ofensas à integridade física e tentativa de sequestro. No intervalo para almoço, José Manuel Castro recordou que o processo tem «cerca de 40 testemunhas».

O advogado diz esperar que, «contra o Mário Machado, seja destruída esta carga acusatória» ao longo do julgamento e nega que o líder dos Hammerskins esteja envolvido nos raptos e extorsões, conforme consta da acusação.
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