GNR's têm de «mendigar» para receber - TVI

GNR's têm de «mendigar» para receber

Preparativos para a cimeira do Tratado de Lisboa - Foto Paulo Carriço/Lusa

UE: militares ao serviço da presidência queixam-se das condições

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Durante a presidência portuguesa, os líderes europeus foram confiados a condutores credenciados, entre eles 80 militares da GNR, que também zelaram pela sua segurança. A pompa do cerimonial que envolve as reuniões dos 27 contrasta, contudo, com as queixas dos militares, que dizem fazê-los sentir-se diminuídos na sua dignidade. «Temos de mendigar para nos pagarem o que devem».



As aspas acima encerram o desabafo de um dos três militares que se encontraram com o PortugalDiário, na noite de quarta-feira, horas antes de Lisboa se tornar um vórtice mediático. Todos pediram para que os seus nomes não fossem revelados.

Questionado pelo PortugalDiário, o comando explica que «até ao momento não foi entregue nenhuma queixa» por parte de militares da GNR, apesar de ser verdade que «há atrasos no pagamento».

«Pagar para trabalhar»



«Apesar de sermos voluntários, o que não podemos aceitar é andar aqui a pagar para trabalhar», diz um dos militares.



Com um gesto, António (nome fictício) explica: «Temos de avançar com dinheiro do nosso bolso para pagar as refeições. E não recebemos senhas de alimentação, porque são entregues com muito atraso». «Meses de atraso», realça o militar.



Manuel (nome fictício) tira da carteira uma das senhas em causa. «11,15 euros», lê-se no Euroticket. «Dão-nos duas por dia», explica o militar, com um desabafo: «Já nos andamos a alimentar com Eurotickets de reuniões anteriores».

Um outro acrescenta que são mobilizados, geralmente, um dia antes das reuniões. «Nesse dia não temos tido direito a senhas, e também não recebemos subsídio de refeição, porque não estamos no posto. Temos de pagar tudo do nosso bolso».



«Sabia que não ia ganhar dinheiro, não sabia é que ia perdê-lo»



Mas este é apenas um dos problemas que a sua missão ao serviço da presidência portuguesa lhes trouxe. «Como estamos muito tempo fora do posto, se não fizermos 100 horas de patrulha, arriscamo-nos a perder o suplemento de patrulha, que são 56 euros por mês». O que tem acontecido muitas vezes, dada a quantidade de reuniões, acrescenta.



Além deste valor mensal, diariamente também ficam sem «cerca de quatro euros de subsídio de posto» e «sem o subsídio de refeição», outros 4 euros. «As ajudas de custo em território nacional não chegam para pagar o que se perde pelo suplemento de posto», diz o militar.



«Quando me ofereci sabia que não ia ganhar dinheiro, não sabia é que ia perdê-lo», desabafa. «Nós andamos armados quando estamos com as altas individualidades. Têm que ter uma grande confiança em nós. Porque é que nos tratam desta maneira? Porque temos de mendigar para nos pagarem o que devem?».



«Não foi apresentada nenhuma queixa» no comando da GNR

Segundo o comando geral da GNR, «não houve até ao momento nenhuma queixa apresentada por militares da Guarda». Contudo, «sabemos que existe alguma demora no pagamento», esclarece fonte oficial em declarações ao PortugalDiário. Os atrasos no pagamento, recorrentes em algumas destas situações extraordinárias, devem-se, sobretudo, a questões administrativas, explica a mesma fonte.
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