«Quando chegava pedia logo pão» - TVI

«Quando chegava pedia logo pão»

Abusos e maus tratos infantis (Arquivo)

Autópsia à menina de dois anos concluída ao início da tarde. Três irmãos da menor apareceram hoje na creche. Sara era a única que apresentava indícios de negligência e maus tratos. Educadora notou «arranhões, cortes no dedos, mordidelas e nódoas negras». Irmãos continuam com os pais

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A autópsia à pequena Sara, a menina de dois anos, que ontem deu entrada no centro de Saúde de Monção, com uma paragem cardio-respiratória, tendo acabado por falecer, deverá ficar concluída ao início da tarde, adiantou ao PortugalDiário, fonte do Instituto de Medicina Legal (IML). O exame está a ser realizado no IML de Viana do Castelo.

Nessa altura ficará a saber-se qual a causa da morte, concretamente, se aquela teve origem em maus tratos.

Recorde-se que as autoridades suspeitam de maus tratos infligidos pela mãe da pequena, muito embora não possuam indícios fortes nesse sentido. Sara apresentava hematomas na cabeça e nas pernas.

A menina foi transportada ao centro de saúde de Monção pela mãe, uma jovem de 24 anos, que nega a prática de maus tratos e aponta como causa da morte as duas quedas da menor pelas escadas da casa.

Três irmãos foram à creche

Os três irmãos da pequena Sara [um rapaz de cinco anos, uma rapariga de quatro anos e um bebé de um ano e três meses] continuam com os pais «e esta quinta-feira vieram para o jardim de infância», adiantou ao PortugalDiário Vítor Bret, da direcção da Santa Casa da Misericórdia de Monção, que tutela a instituição.

A mesma fonte adiantou que a educadora da menina denunciou uma situação de negligência e maus tratos à Comissão de Protecção de Menores de Monção, no passado dia 4 de Dezembro.

«A menina veio para aqui em Novembro e desde o início apresentava situações como nódoas negras, na anca e na cara, dedos cortados, mordidelas e arranhões», explicou Vítor Bret.

Da primeira vez que foi chamada à escola, a mãe da pequena referiu que os cortes nos dedos ficaram a dever-se à utilização de facas de cozinha. «À segunda vez que foi chamada, já nem apareceu», continua o mesmo responsável.

As mordidelas e arranhões «até poderiam ser atribuídas aos irmãos», mas, prossegue Vítor Bret, «quando a educadora achou que era demais, telefonou à assistente social a comunicar o caso».

O aspecto «débil e triste» da menina e as evidentes carências alimentares [«quando chegava pedia logo pão»], contrastavam com o ar «bem tratado e feliz» dos três irmãos.

O facto de apenas a Sara apresentar sinais de negligência e eventuais maus tratos levou a Comissão de Protecção de Menores de Monção (CPM) a decidir «requerer uma avaliação ao estado de saúde dos quatro irmãos, que deveria ter acontecido esta quinta-feira», referiu ao PortugalDiário, a responsável da CPM de Monção, Sílvia Nelly. A decisão de retirar os menores aos pais era, face aos elementos disponíveis, considerada exagerada.

«Nem sequer houve tempo de conhecer a família», acrescentou a mesma técnica, esclarecendo ainda que a família mudara-se de Viseu em Setembro e que já aí estaria a ser acompanhada. [Ver texto relacionado: morreu menina de dois anos]

Quando uma criança que está sinalizada nas comissões de protecção de menores muda de residência, a CPM deve comunicar o caso à sua congénere para onde a família se mudou, mas «acontece que a CPM de Viseu não nos disse nada (se calhar, não soube que tinham mudado) e foi pelo centro de saúde que ficámos a saber que a menina já tinha sido acompanhada», rematou Sílvia Nelly.
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