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Levantar a mão aos pais

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Quase todos os dias há pais vítimas de violência por parte dos filhos. Em seis anos foram registados mais de dois mil casos. Porto é o distrito com mais ocorrências. Vergonha e culpa impedem mais denúncias

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Quase todos os dias a GNR regista um caso de violência em que os pais são as vitimas e os filhos os agressores. Em seis anos foram denunciados mais de dois mil casos. Estes registos de violência, também ela doméstica, são ainda uma realidade escamoteada pela vergonha e pela culpa, sustenta a APAV.

Nos primeiros seis meses de 2006 a GNR, através do Núcleo Mulher e Menor (NMUME), registou 177 casos de violência doméstica em que os filhos foram os autores da violência. Desde 2000 até Julho de 2006 o número ascende a 2,319 ocorrências, segundo dados que apenas dizem respeito à área patrulhada pela Guarda e a que o PortugalDiário teve acesso.

No primeiro semestre deste ano a maior parte dos casos (82) foram de maus tratos, quer físicos, quer psíquicos. Logo a seguir, surgem as agressões físicas sem gravidade (62 casos). As agressões graves foram apenas registadas numa ocorrência.

Os meses de Maio e Junho foram os que tiveram mais denúncias. Os dados da GNR revelam ainda que em dez situações os pais foram vítimas de ameaças e coacção. A maior parte desta violência ocorre no norte do país com o distrito do Porto a ter mais casos que qualquer outro (38). Lisboa segue-se com 19, Braga com 17 e Castelo Branco com 14.

Os dados da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) vêm reforçar estes indicadores. No ano passado os filhos foram autores de crimes em 275 processos. Os primeiros três meses de 2006 também não são animadores. A APAV registou já 78 casos, que representam cinco por cento do total das participações recebidas na associação.

«Falhámos como pais»

As causas deste tipo de criminalidade nunca são únicas ou estanques, conforme explica ao PortugalDiário Helena Sampaio, psicóloga da APAV: «Como nos outros crimes de violência doméstica, é uma junção de factores que leva a esta realidade. No entanto, na maioria dos nossos processos a toxicodependência surge como catalisador destas agressões».

Mas não é apenas a droga a responsável. Também as perturbações mentais e comportamentais e a situação financeira levam a que sejam os filhos a levantar a mão aos pais.

Os números revelados levantam a ponta do véu de um crime que, à semelhança da violência entre marido e mulher, também fica dentro de portas. «É uma realidade que ainda está escamoteada. A vergonha e o sentimento de culpa dominam muito estes casos. A ideia das vítimas é de que eles é que falharam como pais», explica Helena Sampaio.



Mas há mais um factor. «A protecção dos filhos é mais um entrave à denúncia apesar da violência sofrida», adianta.

A solução passa em muitos casos para as mãos de quem está perto. «Vizinhos e familiares podem denunciar e manter o anonimato. É importante perceber que o facto de ser um crime público possibilita que qualquer um de nós alerte para os casos sem ter que formalizar uma queixa ou prestar depoimento», sustenta a psicóloga da APAV.
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