Isaltino: «Depositava envelopes com dinheiro» - TVI

Isaltino: «Depositava envelopes com dinheiro»

Várias testemunhas, ouvidas em tribunal, relatam ter depositado «dinheiro vivo» nas contas do autarca de Oeiras

Cinco testemunhas disseram esta terça-feira em tribunal ter depositado envelopes com dinheiro em contas de Isaltino Morais, por ordem de secretárias do gabinete de apoio à presidência da Câmara de Oeiras, referindo desconhecer a proveniência desse dinheiro, escreve a Lusa.

A sessão desta tarde do julgamento de Isaltino Morais foi dedicada à inquirição de testemunhas que trabalham ou trabalharam na autarquia de Oeiras.

António Brito, motorista da Câmara entre 1975 a 2002, disse, instado pelo Ministério Público, que depositou vários envelopes em «dinheiro vivo», a mando das secretárias do gabinete de apoio à presidência da autarquia. «Davam-me os envelopes e eu depositava-os. Fazia o que me mandava», explicou.

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Amândio Martins, também motorista reformado, que trabalhou na Câmara Municipal de 1969 a 2003, revelou ter feito vários depósitos a pedido da secretária Paula Nunes, principal testemunha da acusação, acrescentando desconhecer os valores em causa.

«O dinheiro era-me entregue em envelopes com um papelinho com o número da conta», afirmou.

Um antigo adjunto do presidente da Câmara, de 1992 a 1999, Armindo Azevedo, confirmou também ao colectivo de juízes que realizou depósitos numa conta do autarca: «O presidente distribuía dinheiro [pelas despesas das campanhas eleitorais] e dava-me para eu depositar nessa conta».

Quando questionado pela juíza Paula Albuquerque sobre o destino a dar ao dinheiro após o final das campanhas, Armindo Azevedo afirmou que esses valores ficavam com Isaltino Morais.

Após o final da sessão, o autarca justificou à Lusa que até 2005 a devolução do dinheiro que sobrava das campanhas não era «obrigatória», uma justificação que já havia dado quando fora ouvido no início do julgamento, em Março.

«Ter dinheiro em casa não é crime»

Na ocasião, o presidente da autarquia oeirense admitiu não ter entregue ao Estado os montantes excedentes das campanhas feitas até 2001 - cerca de 400 mil euros -, sublinhando que esta era a «prática comum em todos os partidos, em todos os concelhos» e que esses valores se destinavam à actividade política.

As sobras das campanhas integraram, inclusive, vários depósitos feitos pelo autarca ou por sua indicação na Suíça e que despoletaram as investigações deste caso, no qual Isaltino é acusado de um total de sete crimes de participação económica em negócio, corrupção para acto ilícito, branqueamento de capitais, abuso de poder e fraude fiscal.

Isaltino Morais tem também desvalorizado o facto de costumar ter elevadas quantias em numerário consigo ou em sua casa, onde chegou a guardar 80 mil contos (400 mil euros): «Ter dinheiro em casa não é crime, ter dinheiro em numerário não é crime».
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