O Portugal «poupadinho» de Salazar - TVI

O Portugal «poupadinho» de Salazar

  • Portugal Diário
  • - Irene Pinheiro
  • 25 abr 2007, 17:30

Ironia, surrealismo, versos do hino nacional misturados com publicidade ao Cola Cao e um homem «esquisito, esquisito, muito esquisito». São estes os ingredientes de umas «Férias grandes com Salazar». «Desejamos reacções», diz o encenador

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Quer ver como era o Portugal «poupadinho», governado por um homem «esquisito, esquisito, muito esquisito», que andava às ordens da Maria e que é toda a nossa história recente? Tudo isso e muito mais, até com requintes de um surrealismo divertido, apostado em arrancar umas gargalhadas, pode ser visto na peça «Férias Grandes de Salazar», que estreia a 24 de Abril, no Teatro da Politécnica, em Lisboa.

Num tempo em que se ouvia a telefonia para conhecer as notícias do regime, era tempo também de escutar os discursos do homem do Estado Novo. E esse homem aparece aqui numa mercearia - talvez a metáfora de um Portugal remoto -, com uma mesinha de pedra, nas traseiras da casa, com pão, vinho e pouco mais.

É este o retrato irónico à volta de uma figura histórica que está presente nesta peça de Manuel Martínez Mediero, encenada por José Carretas: Salazar e a Família. Salazar e a pátria. Salazar e a religião. Salazar poupadinho. Salazar sovina.

A peça que sobe ao palco, porque Portugal conseguiu tirar realmente umas «férias grandes de Salaza», revela um homem que faz muitas contas na sua mercearia e que está subjugado à autoridade da governanta Maria. O texto tem ainda a particularidade de apostar em contornos surrealistas, ao misturar, por exemplo, versos do hino nacional com versos publicitários do Cola Cao.

Em palco, Francisco Brás é Salazar. Foi recrutado através de um anúncio de jornal, ao qual respondeu «um pouco na desportiva». Sobre o homem do Estado Novo limita-se a dizer que «é um político com um papel importantíssimo na nossa história». E, por isso mesmo, «um desafio» na sua carreira.

Este espectáculo faz parte de uma remontagem que estreou em 1997, em Idanha-a-Nova. Nessa altura o nome do político não provocava o furor como acontece actualmente. Não havia manifestações em Santa Comba Dão contra a criação de um museu sobre Salazar nem pessoas indignadas com o resultado do programa «Grandes portugueses» exibido pela RTP.

José Carretas espera uma plateia «cheia» e não teme reacções: «Isto é teatro. Queremos que continue a ser um divertimento. Queremos levar-nos a sério, sem nos levarmos a sério. O público o dirá! Desejamos reacções. É sinal de vitalidade.»



«Férias grandes de Salazar» é uma co-produção entre o Teatro Nacional D. Maria II, Teatro das Beiras e a colaboração da Junta de Extremadura, que reúne actores como: Ana Margarida Carvalho, Elisa Neves Ferreira, Eva Fernandes, Cândido Ferreira, Pedro Fiúza, Cândido Gomez, Filomena Gigante, Carlos Marques, João Miguel Melo, Miguel Telmo e Rini Luyks.
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