A presidente da Associação Sindical dos Juízes disse este sábado ser “uma desconsideração pela classe” a ausência do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, no XI congresso de magistrados, que durante três dias decorreu na Figueira da Foz.
Estou farta de dizer que o poder político desconsidera o judiciário. Neste caso, o senhor Presidente da República associou-se a essa desconsideração que nós pensávamos que era apenas do Governo”, disse à Lusa, Manuela Paupério, no encerramento do congresso.
As declarações de Manuela Paupério surgem após ter conhecimento de que Marcelo Rebelo de Sousa esteve sexta-feira no congresso dos Economistas e que este sábado tem presença marcada no congresso dos Farmacêuticos, lembrando que o Chefe de Estado foi convidado a estar presente em 2016 e que, na ocasião, disse "que teria muito gosto".
Não acredito que essas entidades [Ordem dos Economistas e Ordem dos Farmacêuticos] o tenham convidado antes de nós", disse, lamentando que o “poder judiciário seja desconsiderado pelo poder político”.
A presidente da ASJP reforçou que a ausência do PR ainda é menos compreensível depois de este ter lançado, na abertura do Ano Judicial, um repto aos vários protagonistas do sistema judiciário para que fosse alcançado um pacto para a Justiça.
O senhor Presidente da República fez esse apelo ao qual os juízes e concretamente a Associação Sindical dos Juízes deu resposta, envidando esforços com todos os outros intervenientes, Ministério Público, advogados e solicitadores de execução. Toda a gente respondeu ao repto do Presidente da República. Não compreendo", afirmou Manuela Paupério.
Nas cerimónias do 5 de Outubro, Marcelo Rebelo de Sousa deixou recados sobre o funcionamento da justiça, apontando a necessidade de "uma justiça que veja o seu estatuto devidamente prestigiado" e seja "capaz de resolver os litígios em horizonte comparável" ao dos parceiros europeus de Portugal e que assegure aos cidadãos "que a sua inocência ou culpabilidade não será um novelo interminável".
A reação de Marcelo
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, disse que não tem o "dom da ubiquidade", apesar de considerar "legítimos e justificados" melindres de alguns setores profissionais com a sua ausência.
Durante o discurso no encerramento do Congresso Nacional dos Farmacêuticos 2017, que hoje decorre em Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa disse que "embora conste que o Presidente da República tem o dom da ubiquidade, não tem" e "não consegue estar em todo o lugar ao mesmo tempo".
"Isso causa naturalmente alguns melindres legítimos e justificados de setores profissionais. Ainda hoje os juízes, por não ser possível estar no seu congresso."
O chefe de Estado deu ainda o exemplo da bastonária da Ordem dos Enfermeiros que "tem razões de queixa porque no meio das suas determinadas lutas bem gostaria de estar mais com o Presidente da República".
"Mas o Presidente da República não consegue aguentar o seu ritmo de atividade ao serviço da classe que lidera."
Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que toda a sua "vida foi marcada e bem por farmácias e farmacêuticos".