«Sobreocupação dos professores pode prejudicar alunos», dizem especialistas - TVI

«Sobreocupação dos professores pode prejudicar alunos», dizem especialistas

Marcha da Indignação - Foto de Inácio Rosa para Lusa

«O país não pode ignorar que uma classe profissional tão importante esteja tão generalizadamente desmotivada», diz psicóloga

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Professora há 33 anos, Emília Neves chega a passar 12 horas na escola «atolada em burocracia» e não são poucos os dias em que ainda leva trabalho para casa: «Nunca tive tão pouco tempo para os alunos», garante.

A história de Emília Neves, professora de Filosofia na escola secundária Brancaamp Freire, na Pontinha, repete-se um pouco por todo o país. Relatórios, formulários, actas, fichas e grelhas, são «papéis e mais papéis» que os docentes se queixam de ocupar cada vez mais o seu quotidiano, muito por causa do processo de avaliação de desempenho.

Mas o tempo consumido em tarefas administrativas, muitas vezes retirado à preparação das aulas, ao trabalho com os estudantes e até à vida privada, está a deixar muitos professores desmotivados, um sentimento que os especialistas alertam poder prejudicar o aproveitamento dos alunos.

«É frequente entrar na escola antes das 08:30 e sair depois das 20:00, muitas vezes com trabalho ainda para fazer em casa. Os alunos estão a ter aulas com professores completamente desmotivados, sem tempo para preparar as matérias, nem para se actualizarem do ponto de vista da formação científica. É óbvio que esta situação os prejudica», lamenta Emília Neves.

Deitam as mãos à cabeça

Também Florbela Machado, professora de Língua Portuguesa e História na EB2,3 Pedro Jacques Magalhães, em Alverca, está a «deitar mãos à cabeça»: garante que os docentes estão «fartos de papelada que não contribui em nada para a qualidade do ensino», retirando disponibilidade e energia para o mais importante.

«Não temos tempo para preparar as aulas e corrigir os testes, por exemplo. Para o fazer, temos de trabalhar pela noite dentro e aos fins-de-semana. Estamos totalmente desmotivados, absolutamente esgotados e completamente sobrecarregados com papéis e burocracia», critica.

Situação é «preocupante»

O problema, alertam especialistas, é que o excesso de trabalho administrativo e o descontentamento dos docentes pode comprometer a sua capacidade de motivar os estudantes, prejudicando o aproveitamento escolar.

O psiquiatra Daniel Sampaio, presidente do júri do Prémio Nacional do Professor, não tem dúvidas em afirmar que «grande parte das horas que os professores passam nas escolas é em reuniões ou preocupados com as grelhas e com o esquema de avaliação de desempenho», numa «actividade muito burocratizada» que deixa pouco espaço para a preparação do trabalho com os alunos.

«A sobreocupação dos professores com tarefas exteriores à preparação das aulas seguramente que os desmotiva e é provável que isso vá ter reflexos no aproveitamento dos alunos e no próprio interesse dos alunos em participar nas actividades lectivas», assegura.

Em declarações à Lusa, a especialista em Psicologia Educacional Adriana Campos vai mais longe: «É preocupante que a grande maioria dos professores esteja sem ânimo e motivação porque é a qualidade das aprendizagens que está em causa. O país não pode ignorar que uma classe profissional tão importante esteja tão generalizadamente desmotivada».
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