Manif dos professores pode gerar descontentamento social generalizado - TVI

Manif dos professores pode gerar descontentamento social generalizado

Manifestação de Professores em Lisboa

Especialistas dizem que agora é o momento para fazer reivindicações ao Governo

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A manifestação nacional de professores agendada para sábado pode catalisar um descontentamento social generalizado, acarretando elevados riscos para o Governo, que se sentirá mais pressionado a alcançar acordos em ano eleitoral, defendem politólogos contactados pela Lusa.

«Se a manifestação conseguir uma mobilização semelhante à de Março isso pode ser catalisador para o descontentamento de outros grupos sociais, num contexto de recessão e crise económica. É óbvio que um descontentamento generalizado espoletado pelo movimento de professores é algo extremamente problemático para o Governo», defendeu Carlos Jalali.

O professor da Universidade de Aveiro considera, no entanto, que professores e Governo têm algo a perder e a ganhar neste conflito: os docentes podem voltar a ter a opinião pública do seu lado, mas, ao mesmo tempo, serem acusados de «uma pressão oportunista para alcançar benefícios num contexto em que toda a gente sofre».

«Por outro lado, o PS e o Governo querem renovar a maioria absoluta e para isso têm de evitar descontentamentos sociais. Mas, ao ceder, o Executivo perde a imagem de autoridade que tem junto do seu eleitorado. É um equilíbrio complicado», acrescentou.

Agora e o momento de «extrair benefícios deste Governo»

A opinião é partilhada por Marina Costa Lobo, do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa: «As forças sociais interessadas em extrair benefícios deste Governo devem fazê-lo agora e até às eleições».

«Com a conjuntura de mudança e reorientação de políticas do Governo, todos os actores sociais deverão mobilizar-se ainda mais para as suas causas com vista à obtenção de novos acordos com o Governo», afirmou.

Para a politóloga, na questão concreta da avaliação, já em Março, parece ter emergido entre a opinião pública «um consenso de que embora se devesse avaliar os professores, isso não deveria acontecer segundo o esquema proposto pelo Governo».

De acordo com o sociólogo André Freire, os efeitos para os professores e para o Governo deste braço-de-ferro dependem do nível de adesão dos docentes no próximo sábado. No caso dos professores, acrescenta, tudo depende da capacidade de passar a mensagem de que querem ser avaliados, mas com um modelo alternativo.

«Se a manifestação for muito participada como em Março, porque a fasquia está muito elevada, e se essa mensagem for bem passada, a bola passa para a capacidade e nível de abertura do Governo para negociar alterações no sistema de avaliação», afirmou.

Distinguir entre reivindicações financeiras e políticas

O professor do departamento de Sociologia do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE) concorda que esta pode ser uma boa altura para exigir, mas sublinha que o que está em causa não são reivindicações meramente financeiras.

«É importante distinguir entre questões financeiras, onde claramente parece agora haver margem de manobra, e questões de opção política, tal como a avaliação de professores. No que diz respeito aos docentes, a anterior tentativa de forçar o Governo a recuar nesta matéria deu frutos, pelo que com certeza deverão insistir», afirma, por seu turno, Marina Costa Lobo.

Segundo Carlos Jalali, a relação entre professores e Governo é «altamente complexa», com «considerações tácticas de parte a parte».

«Muito depende da capacidade dos docentes em transmitirem ao eleitorado a sua posição e conseguir que este lhe dê razão. Se isso não acontecer, o Governo pode optar por não ceder, porque corre o risco de perder mais eleitores cedendo do que não cedendo», rematou.

A manifestação de sábado realiza-se entre a Alameda da Cidade Universitária e os Restauradores e foi convocada pelos sindicatos do sector para protestar contra o modelo de avaliação de desempenho dos docentes.
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