Pais e funcionários contra deslocação do Maria Pia

Alguns pais e funcionários manifestaram-se, nesta segunda-feira, apreensivos e «indignados» com o processo de encerramento do Hospital Pediátrico Maria Pia, no Porto, que esta manha iniciou a transferência provisória das crianças ali internadas para o Hospital de Santo António.

O encerramento do «Maria Pia» já estava previsto com a construção do Centro Materno-Infantil do Norte (CMIN), mas foi antecipado devido à fiscalização da Entidade Reguladora da Saúde (ERS), que considerou não existirem condições para a continuidade do funcionamento, estando em causa a segurança e a qualidade da assistência prestada.

Numa manhã agitada, com carrinhas de mudanças e ambulâncias à porta, a indignação fez-se sentir por parte dos utilizares do hospital quando a diretora prestava declarações aos jornalistas.

Para Isabel Santos, mãe de um utente do Maria Pia, este processo resulta de «uma questão de interesses», referindo que «são meninos que dão prejuízo ao Estado, são meninos que vão precisar de imensos tratamentos, é uma vergonha o que estão a fazer».

«E este edifício, qual é o interesse neste edifício que não permite que se aguarde o fim das obras do Centro Materno-Infantil?», questionou ainda.

Visivelmente emocionada, uma encarregada dos serviços gerais manifestou-se também contrariada com a transferência para o Hospital de Santo António, criticando a forma «atabalhoada» como o processo está a decorrer.

«Trabalho aqui há 42 anos, há mais de 40 que se diz que o hospital ia encerrar, a nossa cabeça estava preparada para sairmos daqui um dia, mas esperávamos sair com dignidade», justificou, afirmando que «os funcionários têm sido tratados como lixo».

Considerou ainda existir «falta de dignidade» na forma «como algumas pessoas com responsabilidade falam da falta de condições» do hospital.

«O Santo António tem alguns sítios com menos condições do que as que temos aqui e vão meter a Pediatria num buraco. Não entendo porque não podemos ficar aqui até que o Centro Materno-Infantil fique concluído», lamentou.

Em declarações à Lusa, a diretora do Hospital Maria Pia, Helena Jardim, considerou que «as pessoas são livres de emitirem as suas opiniões» e disse compreender «os estados de alma» de alguns funcionários que «estão aqui há 30 anos ou mais».

«Isto foi uma decisão superior, não foi um desejo nosso e, como tal, temos que nos articular com aquilo que a tutela mandatar. Estamos numa fase de transição que muito nos alegra, porque temos um futuro à frente mais seguro, que é o Centro Materno Infantil do Norte», que estará concluído no segundo semestre de 2013.

As primeiras crianças transferidas são as da Unidade de Cuidados Intensivos, seguindo-se as do internamento cirúrgico, num total de 22, informou Helena Jardim.

«Esperamos fazê-lo em dois dias, de maneira articulada, serena e segura, no sentido de o mais rapidamente possível estabelecermos a normalidade», referiu.

Com cerca de 200 profissionais, o Hospital pediátrico Maria Pia realizou, em 2011, cerca de 70 mil consultas, cerca de duas mil intervenções cirúrgicas e internou 3.001 crianças.