Houve «muitas» pressões para declarar falência da Torralta - TVI

Houve «muitas» pressões para declarar falência da Torralta

  • Portugal Diário
  • 12 set 2005, 10:13
Antes de tudo começar...

Ex-administrador judicial diz que tudo começou quando «tomou a posição de que a empresa era viável». Governo, liderado por Cavaco Silva, disse o contrário. E não existiu alteração quando António Guterres passou a chefiar Executivo

O antigo administrador judicial da Torralta, João Carvalho das Neves, afirmou em entrevista ao Diário de Notícias que sofreu «pressões para levar o antigo complexo turístico da Torralta à falência».

João Carvalho das Neves disse ao DN que «sentiu pressão de algumas pessoas a partir do momento em que tomou a posição de que a empresa era viável».

«A partir do momento em que tomei a posição de que a empresa era viável, surgiram indecisões no PSD (partido que governava em 1994, com Cavaco Silva). Houve uma tendência no sentido de influência pela falência», disse o antigo administrador judicial.

«Quando apresentei a solução teórica, o Governo comentou publicamente que a proposta não era viável», disse João Carvalho das Neves, antes de acrescentar que «a situação não se alterou com a mudança de Governo liderado por António Guterres».

Segundo Carvalho das Neves, as pressões para a falência eram muitas e grandes e havia muitos interesses formados por vários lobbies, onde estavam também os privados.

O antigo administrador judicial afirmou ao DN que as leiloeiras chegaram a aliciá-lo com benefícios caso levasse a Torralta à falência.

Duas torres inacabadas, das seis que compunham o antigo complexo turístico da Torralta, na península de Tróia, foram demolidas por implosão na passada quinta-feira.

As duas torres estavam situadas na zona central de Tróia, onde vão ser construídos os principais equipamentos turísticos do empreendimento, na sequência do acordo estabelecido há cerca de oito anos entre o grupo Sonae-Turismo e o Estado português.

A demolição das duas torres inacabadas assinala o fim de um projecto da Torralta vocacionado para o turismo de massas, que na década de 70 foi publicitado nas televisões como o «admirável mundo novo», mas que acabou por se revelar um investimento desastroso para milhares de pequenos aforradores.

João Carvalho das Neves disse ao Diário de Notícias que muitas das pessoas que estiveram a festejar a demolição das duas torres nunca acreditaram na recuperação da empresa, inclusive o primeiro-ministro, José Sócrates.

«Do ponto de vista económico, a demolição das torres foi uma decisão acertada pois estavam inacabadas e degradadas», afirmou o antigo administrador judicial.

Questionado sobre como a Torralta chegou à grave situação financeira, Carvalho das Neves considerou que «houve um período de caos», enquanto a empresa estava a ser gerida pelo Estado e que «na fase das privatizações (a empresa) foi dada ao antigo dono, mas com muitas dívidas».

Após tentativas de reestruturação mal sucedidas a situação da empresa piorou e o antigo dono decidiu vendê-la a um conjunto de accionistas.

Ainda assim, diz Carvalho das Neves, as «asneiras continuaram e havia uma incapacidade de fazer algo pela Torralta».

Foi então que, em 1994, o Governo fez um anúncio de venda de créditos do Estado e se decidiu a recuperar a empresa.

No final de 1997, a Sonae adquiriu a Torralta.
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