Coimbra: «porto seguro» para estudantes lusófonos

Uma «luz ao fundo do túnel» ou «um porto seguro» é como estudantes estrangeiros lusófonos de vários continentes encaram a Provedoria que a Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra criou para eles há um ano.

Inovadora nas universidades portuguesas, a Provedoria visa dar respostas concretas aos «graves problemas» vividos pelos jovens estrangeiros oriundos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) que estudam na maior faculdade da Universidade de Coimbra (FCTUC) e poderá ser um factor determinante no sucesso escolar destes alunos.

Vêm de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe ou Timor-Leste e «aterram de pára-quedas» numa das mais antigas universidades do «Velho Continente», deparando muitas vezes com demoras no pagamento das bolsas e as consequentes dificuldades de subsistência ou o choque com uma cultura estranha, a portuguesa.

«Têm de lidar com muita coisa: a vida que deixaram para trás e a nova vida que encontram aqui», disse à agência Lusa a provedora para os estudantes estrangeiros de língua portuguesa na FCTUC, Lídia Cardoso, ao referir que, neste primeiro ano de experiência, se deparou com «problemas dramáticos».

Actualmente, são cerca de 400 os alunos estrangeiros da CPLP que estudam na FCTUC e que beneficiam do acompanhamento e dos mecanismos disponibilizados pela Provedoria, nos quais se incluem, entre outras vertentes, aulas de apoio em várias matérias e o precioso acompanhamento na integração à chegada a Portugal.

Para a provedora, o maior factor de insucesso escolar destes alunos é a sua chegada tardia a Portugal, uma situação que tem vindo a tentar solucionar através de diversas diligências feitas junto das embaixadas e de outros organismos.

«A chegada atempada dos novos alunos é a chave para o sucesso escolar. O dia 01 de Setembro é a data ideal para o início das aulas em boas condições, de forma a garantir um bom desempenho escolar», salientou Lídia Cardoso.

«É uma luz no fundo do túnel, uma pessoa que nos escuta», refere António Fortes, um cabo-verdiano finalista de Engenharia Civil e dirigente associativo que colabora com a Provedoria.

Segundo António Fortes, muitos dos colegas que vieram estudar para a Universidade de Coimbra (UC) desistiram pelas dificuldades encontradas na fase inicial e por se sentirem abandonados.

Ao louvar a criação da Provedoria, Mikhail Saraiva, um jovem de São Tomé e Príncipe finalista de Engenharia Química, sublinha que «o encaminhamento inicial é muito importante» e que, até agora, «o que tem funcionado é o apoio dos colegas».

«Com apoio na integração e o pagamento atempado das bolsas, o sucesso seria idêntico ao dos colegas portugueses. Se um aluno não tem dinheiro para comer ou para pagar livros, não se consegue concentrar e estudar», disse Mikhail Saraiva à Lusa, lembrando que chegou à Universidade de Coimbra em Outubro e só recebeu a bolsa em Janeiro.