Salazar aceitou universidade em Moçambique com medo do «apartheid» - TVI

Salazar aceitou universidade em Moçambique com medo do «apartheid»

Mostra de objetos pessoais de Salazar (NUNO ANDRÉ FERREIRA/LUSA)

Primeiro reitor conta como convenceu o ditador português

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O antigo ditador português Oliveira Salazar tolerou a primeira universidade moçambicana por recear que a população nativa se formasse na «África do Sul do apartheid», contou Veiga Simão, primeiro reitor na ex-colónia portuguesa.

À margem do 22º Encontro da Associação das Universidades de Língua Portuguesa (AULP), que arrancou, nesta segunda-feira, em Maputo, o académico definiu como «uma grande aventura» a abertura da primeira instituição de ensino superior em Moçambique, que comemora 50 anos na quarta-feira.

«Eu tinha 33 anos e vir fundar uma universidade em Moçambique era uma grande aventura, mas entendi que essa aventura devia ser a obra da minha vida. A resistência não era apenas da parte dele [Salazar], era de um grupo de portugueses influentes que julgava que o mundo permanecia o mesmo e não entendia o vento da mudança», recordou Veiga Simão, em declarações à Lusa.

Para persuadir Oliveira Salazar da inevitabilidade de proporcionar o ensino superior à população da ex-colónia portuguesa, Veiga Simão explicou ao ditador que as universidades sul-africanas em atividade no tempo do «apartheid» iriam preencher a falta de oportunidades de ensino em Moçambique.

«Tive um diálogo franco com ele e expliquei-lhe que antes uma independência de Moçambique com Portugal que uma independência contra Portugal», frisou.

Sobre o peso moral de ter sido reitor de uma universidade com uma matriz racista, por ser maioritariamente frequentada por brancos, Veiga Simão afirmou ter entendido essa situação como transitória, uma vez que os Estudos Gerais Universitários de Moçambique tinham condições para que mais tarde promovesse a igualdade de acesso a todas as raças da antiga colónia.

«Foi-me posta a questão numa entrevista ao The New York Times sobre quantos estudantes de cor havia na universidade. Respondi que haveria na altura cerca de 15 por cento de estudantes de outras raças, mas isso não significava que a universidade fosse branca. O mais importante era progredir no sentido de promover a igualdade de acesso», salientou Veiga Simão.

Enfatizando que nos seus primeiros anos de existência, a universidade em Moçambique cotou-se como uma das melhores de África, Veiga Simão apontou a necessidade de equilibrar «a qualidade com a quantidade» como o desafio da instituição.

Veiga Simão está em Moçambique como convidado de honra da cerimónia de abertura das comemorações do 50º aniversário da Universidade Eduardo Mondlane.
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