Quando as paredes de Lisboa se transformam em política - TVI

Quando as paredes de Lisboa se transformam em política

Mensagens políticas nas ruas de Lisboa [Catarina Pereira]

Mensagens pelas ruas da capital são muitas. Escritas clandestinas têm o capitalismo como grande alvo

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Passear por Lisboa com os olhos dirigidos às paredes pode ser um exercício quase digno de um comício político. Apesar dos esforços da autarquia e de muitos moradores, ainda há quem consiga usar uma parede para passar uma mensagem, apelar ao voto ou criticar quase tudo e quase todos.

«Escrever mensagens nas paredes é uma forma de passar as nossas ideias a toda a população, é uma forma de política, é uma forma de consciencialização e de crítica ao sistema. Já assim foi no 25 de Abril, quando todos os partidos políticos ocupavam as paredes das cidades com murais», explicou o autor do blogue «Stencil de Rua» ao tvi24.pt.

Não é fácil descobrir os autores destas mensagens, quase sempre sob a forma de stencil, mas também apenas com uma simples frase. A «arte», arriscamo-nos a chamar, é clandestina, proibida, mal-vista até.

«Se as grandes empresas têm o direito de ferir os nossos olhos com grandes outdoors, se as rádios, os jornais e as televisões têm o direito de passar as suas mensagens, então nós também queremos reivindicar esse direito...», continuou João (nome fictício), de 25 anos.

Cidade Universitária, Castelo de S. Jorge, Bairro Alto, Rossio, Entrecampos e Sete Rios são alguns dos sítios lisboetas onde encontrámos mais mensagens. A escolha passa sobretudo por locais habituais das correrias do dia-a-dia, ainda que sejam precisamente esses onde é mais fácil ser «apanhado» e daí parte da adrenalina do «movimento».

«Eu penso que a maior arte não é aquela que está nas galerias, onde só alguns têm acesso. A verdadeira arte é aquela que ocupa os espaços onde as pessoas passam todos os dias, sendo de acesso universal. Numa noite podemos fazer 30 ou 40 stencils e no dia seguinte sabemos que a mensagem vai chegar a milhares de pessoas», contou.

Sendo «um espaço típico da esquerda», as paredes de Lisboa «combatem» maioritariamente o capitalismo. Entre mensagens declaradamente partidárias, há apelos ao voto, pedidos de nacionalização e de ensino público e nem o «Magalhães» escapa, com uma criança a pedir a troca por uma «Playstation».

«É a esquerda que reivindica mais liberdade e não a direita, e pintar nas paredes é uma forma de liberdade. Por outro lado, sendo a juventude tipicamente de esquerda e sendo o movimento composto essencialmente por jovens, é normal que a esmagadora maioria das mensagens sejam de esquerda», concluiu.

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