Portugal tem «bons ingredientes» para vencer Prémio Europeu do Inventor - TVI

Portugal tem «bons ingredientes» para vencer Prémio Europeu do Inventor

Sobreiros

Pela primeira vez, os portugueses disputam final com o «milagre» da multipilicação da cortiça

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As grandes invenções são muitas vezes simples. O «milagre» da multiplicação da cortiça é um exemplo disso mesmo. A invenção que leva Portugal à final do Prémio Europeu do Inventor consiste em mergulhar a cortiça numa «panela de pressão» e depois leva-la ao microondas. A receita tem «bons ingredientes» para, esta terça-feira, trazer de Amesterdão para Lisboa o galardão europeu.

Por detrás de qualquer resultado há também, na maioria dos casos, muito trabalho. É o caso da invenção que leva ao aumento do volume da cortiça. Há 30 anos que Helena Pereira, professora no Centro de Estudos Florestais do Instituto Superior de Agronomia (ISA), faz investigação em torno da cortiça. O reconhecimento de anos de trabalhos chegou com a nomeação para para o prémio considerado os Óscares da inovação na Europa - Prémio Inventor do Ano da Agência Europeia de Patentes.

Portugal disputa prémio com um espanhol e dois austríacos, ligados a comboios e ao fecho silencioso de armários. Os investigadores portugueses conseguiram perceber como fazer uma peça de cortiça render mais 40% em média e no máximo 85%. «É muito bom. É a valorização do conhecimento e um sinal do desenvolvimento tecnológico e científico do país», disse ao tvi24.pt Helena Pereira, já em Amesterdão, pouco antes de participar numa cerimónia do evento.

Helena Pereira, que não esteve sozinha na descoberta e que partilha os louros com António Velez Marques, engenheiro químico do Instituto Politécnico de Lisboa, explica-nos que o processo permite «aumentar o volume da cortiça. É como ter mais matéria-prima». A cortiça é mergulhada em água, num autoclave, uma espécie de panela de pressão, e depois vai ao microondas. O resultado é instantâneo. Como «milagre» a cortiça cresce, uma vez que a água em conjuto com as ondas de microondas permitem «esticar» as células da cortiça. O processo é aplicado depois da cortiça ser retirada da árvore e permite aumentar a produção, mas não acerela o crescimento dos sobreiros.

A descoberta, feita no âmbito de um projecto de parceria universidade-indústria (mais concretamente com a Corticeira Amorim), tem fortes implicações na produtividade industrial e, consequentemente, um forte valor económico, para além de cientifico. As exportações de cortiça e derivados atingiram em 2012 os 845 milhões de euros, um aumento de 10% em relação a 2010.

Portugal está pela 1ª vez na short-list para o «Prémio Inventor do Ano» na categoria Indústria, disputando o prémio com um espanhol que inventou um método para optimizar a condução de comboios e dois austríacos que cunharam um sistema que permite fechar as portas dos armários com maior suavidade. Os vencedores do galardão serão conhecidos no esta terça-feira, numa gala da Agência Europeia de Patentes em Amesterdão e Portugal pode mesmo trazer o prémio para casa.

«Não sei, vai depender do júri. Esta invenção alia vários aspectos, desde o económico, industrial ao material que é ambientalmente sustentável. Um dos pontos a favor é precisamente por este ser um processo muito limpo, muito verde. Temos bons ingredientes, mas logo veremos», confessou Helena Pereira.

Portugal ainda está na cauda das patentes na Europa: em dez anos, Portugal obteve 259 patentes europeias, algumas delas com cobertura além da Europa, enquanto Espanha, só em 2012 viu mais de 400 invenções protegidas. Apesar de ainda ficar aquém da maioria dos países europeus, o número de pedidos tem tido uma trajectória positiva: de 2002 para 2012 as requisições de patente aumentaram seis vezes, de 23 para 139 o ano passado.
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