Casa Pia: «Onde estão as fotos?»

«Onde estão as fotografias? Quem viu as fotografias? Com quem falou sobre as fotografias?», estas foram algumas das questões colocadas à ex-secretária de estado da Família, Teresa Costa Macedo, esta quarta-feira à tarde. Recorde-se que a ex-governante regressou a tribunal para terminar o seu depoimento no processo da Casa Pia.

Teresa Costa Macedo voltou a garantir ter tido na sua posse uma caixa de fotografias que teria sido retirada da casa do ex-diplomata, Jorge Ritto, em 1982. Declarou ter visto duas fotografias e, numa delas, reconhecido uma «figura da sociedade» que não consegue identificar. Garantiu ainda ter pedido para que esta fosse entregue de imediato à Polícia Judiciária (PJ).

Mas o rasto da caixa foi perdido. A PJ diz que nunca teve as fotografias e a ex-governante não sabe o que lhes aconteceu após a entrega às autoridades. No fim da sessão, Ricardo Sá Fernandes, fez um requerimento a pedir a notificação de várias pessoas, referidas por Teresa Costa Macedo, como tendo visto a referida caixa. Entre elas encontram-se, por exemplo, o chefe de gabinete da ex-secretária à época e os educadores da Casa pia de Lisboa que foram buscar os jovens à casa do ex-embaixador, em Cascais.

No requerimento a defesa de Carlos Cruz considerou que a testemunha Teresa Costa Macedo era «destituída de qualquer credibilidade» e que era uma das responsáveis pelo «eclodir do escândalo naquilo em que ele não passa de uma fantasia».

Também no final da sessão José António Barreiros, representante das vítimas, requereu que fosse identificado «o domicílio» de algumas pessoas para que estas fossem notificadas a testemunhar. Entre os nomes que referiu encontra-se a de um ex-inspector da judiciária que, em entrevista a um jornal, disse ter visto as «ditas» fotografias. O inspector foi identificado também pela ex-governante como um dos agentes responsáveis pela investigação em 82.

Mas fotografias não serão os únicos documentos desaparecidos. Teresa costa Macedo referiu «vários relatórios» sobre abusos sexuais na Casa Pia e sobre o desaparecimento de menores que também não constam no processo. Será agora pedido ao gabinete do ministro responsável pela Segurança Social, Vieira da Silva, todos os documentos em arquivo que se refiram à instituição de acolhimento de menores e que possam estar ligados ao caso.

Esta tarde ficou ainda a saber-se que o pediatra cuja casa foi alvo de buscas quando rebentou o escândalo em 2002, e onde foram encontradas diversas fotografias e filmes, era irmão do primeiro provedor nomeado por Teresa costa Macedo, Baptista Comprido, entretanto falecido.

Baptista Comprido acabou por pedir demissão, meses depois de ser nomeado para o cargo, por considerar «não ter competência para acompanhar o caso».

A partir da próxima semana o julgamento da Casa Pia regressa ao Tribunal de Monsanto.