Militares da GNR confessam ter ficado com droga - TVI

Militares da GNR confessam ter ficado com droga

  • Portugal Diário
  • 8 out 2007, 19:14

Ficaram com quatro quilos de um fardo de cocaína que deu à costa em Outubro

Dois militares da GNR, que são acusados de crime de tráfico de droga agravado, confessaram esta segunda-feira, na primeira sessão do julgamento, terem ficado com quatro dos vinte quilos de um fardo de cocaína dada à costa em Outubro, escreve a Lusa.

Os factos, que constam da acusação, remontam a 19 de Outubro de 2006, quando os dois guardas, um cabo de 51 anos e um soldado de 31 anos de idade, foram chamados por pescadores à praia da Consolação, onde tinha dado à costa um fardo contendo 20 quilos de cocaína, «de grande pureza» (66 por cento).

Ainda no local, os dois arguidos terão aberto o pacote, uma vez que o produto estupefaciente se encontrava em local de difícil acesso, quando A.F., cabo há 26 anos no Posto Territorial da GNR de Peniche, propôs a M.T. ficarem com parte do produto estupefaciente, tendo como finalidade a venda da droga, alegadamente para resolver problemas financeiros de ambos.

Os dois guardas optaram por esconder a porção do produto em arbustos, junto ao acesso para a praia dos Supertubos, tendo regressado ao posto para entregar o que restava da apreensão.

Mais tarde, ambos decidiram transferir a droga para a garagem da casa onde morava A.F. que, para não levantar suspeitas, decidiu esconder a cocaína no meio de gesso em pó, dentro de uma lata de tinta, uma vez que se dedicava também a trabalhos de construção civil.

A.F. acabaria por vender o produto estupefaciente por 25 mil euros a um traficante, ao que tudo indica de identidade desconhecida, que o abordou na praia de Peniche de Cima, apanhando-o de surpresa já que nenhum deles teria revelado o caso a ninguém.

O arguido explicou em tribunal que «estava desesperado e não sabia o que havia de fazer» com a droga, alegando que o facto de alegadamente desconhecer os circuitos de comercialização de estupefacientes o terá levado a vendê-lo, em finais de Dezembro, por um valor muito abaixo daquele que poderia ter sido comercializado.

Os quatro quilos seriam suficientes para confeccionar mais de 59 mil doses da droga, o que renderia 200 mil euros no mercado ilícito.

Após mandado de detenção do Ministério Público, os dois militares acabaram detidos, a 28 de Fevereiro, no posto da GNR, por suspeitas de desvio da parte que faltava do fardo.

Os dois suspeitos foram detidos pela Polícia Judiciária, que apreendeu os 12 mil euros que coube a M.T., tendo recolhido ao Estabelecimento Prisional Militar de Tomar, onde têm estado a aguardar julgamento.

O restante dinheiro da venda da droga continua na posse de A. F, como o próprio confirmou hoje, apesar de se ter disponibilizado para o entregar às autoridades, já que as suas contas bancárias não foram congeladas.

«Não tenho palavras para descrever como isto aconteceu», sublinhou o cabo que, apesar das dificuldades financeiros que alegou ter, não encontra explicação para a sua atitude, dizendo que se tratou de uma «hora má».

«Sempre tive medo», acrescentou o arguido, que chegou a pensar desfazer-se da droga, tendo ponderado enterrá-la.

Já M.T. admitiu também todos os factos, negando quaisquer ameaças que possa ter sofrido do colega, tendo mantido em tribunal uma postura de passividade, a mesma que alegadamente terá tido em Outubro e Dezembro, durante as fases da apreensão e venda do produto estupefaciente, uma vez que confiava em A. F..

Hoje em tribunal, o inspector do departamento de investigação criminal de Leiria da Polícia Judiciária, Sérgio Lopes (testemunha do processo), relatou perante o colectivo de juízes, presidido por Paulo Coelho, que desde o início «houve suspeitas que faltavam pacotes», já que o invólucro do fardo deixava perceber a disposição dos 20 pacotes enfardados em duas filas de dez, além de que todos os fardos dados à costa nessa altura continham 20 quilos cada.
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