«Portugal desconhece a música que se faz no país»

O realizador Tiago Pereira andou um ano a registar a música que se faz em Portugal, no projecto «A Música Portuguesa a Gostar Dela Própria», e descobriu um país onde ainda «há um desconhecimento grande daquilo que se faz», escreve a agência Lusa.

Ao fim de um ano a divulgar na Internet vídeos de artistas portugueses, entre músicos conhecidos e outros que saem do anonimato, a tocarem em locais inesperados, Tiago Pereira concluiu que «a música portuguesa, além de tudo, precisa de se escutar a ela própria, as pessoas precisam de conhecer mais do que se faz».

Em declarações à Lusa, o realizador disse ter-se apercebido, entre muitas outras coisas, que «num país tão pequeno há um desconhecimento total tão grande daquilo que se faz».

«É importante ter um canal destes no sentido em que (...) é um espaço onde se reúne, com várias influências de vários realizadores, (...) muitas coisas que por cá se fazem e que dá a conhecer coisas que seria impossível conhecer de outra maneira», disse.

Entre os 370 projectos e artistas registados em vídeo está «a música que não tem que ver com a indústria, desde as senhoras que tocam guitarra portuguesa nos Açores aos ranchos folclóricos mais estranhos».

Além de considerar que «a música portuguesa deve conhecer-se mais a ela própria», Tiago Pereira apercebeu-se também que «aquilo que se produz e o que sai cá para fora é completamente diferente». «Produz-se muito, mas conhece-se muito pouco», disse.

Com o projecto de Tiago Pereira percebe-se também que hoje em dia «há muitas pessoas a agarrar na música de cariz tradicional e em todo um património imaterial musical português, (...) mas agora tocam à maneira deles e com outras influências».

O realizador refere, a título de exemplo, Roberto Moniz, que «mete as raparigas que tocam viola de arame na Madeira a tocar música rock and roll e anglo-saxónica, mas fá-lo em instrumentos tradicionais, e é isso que é importante perceber».

Há um ano, Tiago Pereira criou o projeto para celebrar «a maravilhosa variedade» da música portuguesa. Na sexta-feira, a data é assinalada no MusicBox, em Lisboa, com «três concertos completamente diferentes, dentro do espírito de comemorar a maravilhosa diversidade da música portuguesa».

O cartaz é composto pelos Velha Gaiteira, «um grupo de Zés Pereiras de caixa, bombo e gaita, que vêm da Beira Baixa e que já fazem interpretações deles da música tradicional», pela cantora Elisa Rodrigues acompanhada do pianista Júlio Resende, num repertório de jazz, e por Manuel Fúria e os Náufragos, naquele que será o concerto de apresentação do disco «Manuel Fúria Contempla os Lírios do Campo», que representam o pop-rock.

Um ano depois de «A Música Portuguesa a Gostar Dela Própria» ter arrancado, a ideia é dar a conhecer mais. Porque, segundo Tiago Pereira, «é importante perceber que há uma realidade musical que continua viva».

«Vamos continuar a gravar músicos, mas quando um projecto cresce para esta dimensão, com esta estrutura, já não dá para as pessoas fazerem só por carolice, sem apoios», referiu.

Ao longo do primeiro ano, Tiago Pereira tentou obter apoios, mas recebeu mais de 80 respostas negativas. «Esperamos que com tanto mediatismo do projecto isso dê alguma volta», disse.

Caso tal não aconteça, não quer dizer que o projecto termine, mas terá que tornar-se «um hobby menos louco».