Teremos sempre a ilusão de Paris (alerta mundial em curso) - TVI

Teremos sempre a ilusão de Paris (alerta mundial em curso)

Postal histórico da cimeira do clima

ONU revela conclusões preocupantes sobre o estado do planeta. E pede uma “rápida transformação das sociedades”

O mundo está a direcionar-se para uma catástrofe climática irreversível: a manterem-se as atuais políticas internacionais, o planeta corre o risco de chegar a um ponto de não retorno (e já começamos a senti-las). Esta é uma das conclusões do mais recente relatório anual das Nações Unidas sobre alterações climáticas, que deixa o alerta: "Não existe nenhum caminho credível para os 1,5°C". O que significa isto? "Que não vamos conseguir cumprir o Acordo de Paris", indica à CNN Portugal o especialista em alterações climáticas Pedro Garrett.

O Acordo de Paris - o principal tratado de combate ao aquecimento global - estabelece o objetivo de conter “o aumento da temperatura média do planeta bem abaixo de 2°C” e, se possível abaixo de 1,5°C em relação à era pré-industrial, quando os humanos começaram a usar em quantidade os combustíveis fósseis. "Ao ritmo das emissões de gases de efeitos estufa, mesmo que hoje parássemos por completo, era praticamente impossível cumprir o Acordo de Paris e ficar abaixo dos 1,5ºC", explica o investigador da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

O relatório diz também que muito provavelmente haverá em para meados deste século um aumento de temperatura de media global entre os 2ºC e os 3ºC. Um resultado que, para o secretário-geral da ONU, António Guterres, “lamentavelmente não está à altura” do esperado - o fracasso em reduzir as emissões de carbono significa que a única maneira de limitar os piores impactos da crise climática é uma “rápida transformação das sociedades”.

O progresso foi “lamentavelmente inadequado”, conclui Guterres no comunicado que acompanha o relatório. As atuais promessas de ação até 2030, se cumpridas integralmente, significariam um aumento no aquecimento global de cerca de 2,5°C e condições climáticas extremas catastróficas em todo o mundo.

E facto é que um aumento de 1°C até ao momento causou desastres climáticos em locais desde o Paquistão a Porto Rico. Se as promessas de longo prazo dos países de atingir zero emissões líquidas até 2050 fossem cumpridas, a temperatura global aumentaria 1,8°C. Mas o ritmo glacial da ação significa que até mesmo esse limite de temperatura não é credível, diz o relatório.

"A mensagem é tentar dinamizar e alertar para que haja um compromisso maior neste processo de redução de emissões, caso queiramos continuar a viver num mundo onde já há impactos mas que são geríveis", diz Pedro Garrett, que deixa o alerta: "Muitas vezes perguntam-nos se estas cheias, furacões e incêndios são um novo normal. A resposta é não - é um início de impactos em cadeia que tem tendência a aumentar e que são dependentes das emissões de hoje.

“Este relatório diz-nos em termos científicos o que a natureza nos tem dito durante todo o ano através de inundações mortais, tempestades e incêndios violentos: temos de parar de encher a nossa atmosfera com gases de efeito estufa - e rapidamente", diz Inger Andersen, diretora executiva do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), citada pelo Guardian. "Vamos ter de conviver com os impactos, mesmo os países desenvolvidos não vão escapar", acrescenta Pedro Garrett.

Paralelamente, outros relatórios publicados esta semana afirmam que a saúde da população mundial está à mercê de um vício global em combustíveis fósseis, com crescentes mortes por calor, fome e doenças infecciosas à medida que a crise climática se intensifica.

Os especialistas em clima concordam que toda ação que limita o aquecimento global reduz o sofrimento sofrido pelas pessoas com os impactos climáticos. “A meta de 1,5°C agora é quase impossível, mas cada fração de grau equivale a danos maciços evitados para as próximas gerações”, diz Dave Reay, da Universidade de Edimburgo, também citado pelo Guardian.

Pedro Garrett conclui: "Vivemos num mundo que é muito polarizado. Pela primeira vez temos um problema que só pode ser resolvido de forma coletiva".

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