Batem por beber e bebem para bater - TVI

Batem por beber e bebem para bater

Batem por beber e bebem para bater

Estudo mostra que álcool está na origem de muitos casos de violência doméstica. Alguns inquiridos afirmam que agrediram os cônjuges porque beberam, outros beberam para perder a inibição de bater

O álcool está na origem de muitos casos de violência doméstica: há pessoas que agridem o cônjuge porque bebem e outras que bebem para ter coragem de bater no companheiro. Um estudo, realizado aos utentes do Centro Regional de Alcoologia do Norte (CRAN), revelou que a maioria dos inquiridos agride o companheiro(a) e utiliza o problema do alcoolismo como justificação.

O estudo foi realizado por Jorge Topa e Benedita Seixas e inquiriu 210 doentes alcoólicos: 135 homens e 75 mulheres, sendo que mais de metade (63 por cento) tem entre 36 e 55 anos. Todos são casados ou vivem em união de facto há mais um ano. Perante situações de conflito, 76 por cento afirmaram que amuam, 39 por cento saem da sala e 57 por cento afirmaram que insultam o cônjuge. Mais violenta é a reacção de 54 por cento, que gritam, enquanto 40 por cento ameaçam bater ou atirar com alguma coisa.

Segundo Jorge Topa, assistente social no CRAN, «as pessoas que ameaçam, passam facilmente aos actos, muitas vezes usando armas brancas ou de fogo».

21 por cento dos inquiridos admitiram que dão pontapés ou batem com alguma coisa, 30 por cento optam por atirar objectos, 44 por cento já batem ou empurram o companheiro, enquanto para 34 por cento, a solução é esbofetear.

Já são menos os que admitem espancar o cônjuge (13 por cento) e que utilizam armas brancas ou de fogo para ameaçar (14 por cento). Seis por cento passam mesmo das ameaças aos actos e chega a usar essas armas no companheiro, enquanto três por cento admitem ter feito tentativas de estrangulamento.

A maioria dos inquiridos afirma que estava sob influência do álcool. «Uns dizem que bateram porque tinham bebido, mas também há quem beba para perder as inibições e bater no cônjuge», explicou Benedita Seixas.

Os autores explicam que este estudo é feito junto de um grupo muito específico (doentes alcoólicos) e por isso as conclusões não podem ser alargadas à sociedade portuguesa, contudo afirmam que é um bom primeiro passo e que deveria ser realizado um trabalho semelhante com a população geral, com uma amostra maior.

Álcool faz agressores e vítimas

Segundo o especialista, o álcool também «fragiliza as pessoas», tornando-as mais susceptíveis a serem vítimas de violência. Isso mesmo demonstra o estudo, já que 40 por cento dos inquiridos, admitem ter sido vítimas de violência doméstica.

Benedita Seixas explicou que a grande maioria dos inquiridos que admitiram ter sido vítimas são mulheres. «No total, os homens devem ter sido dois, ou à volta disso», explicou.

Trabalho em rede é importante

Para os autores do estudo, com esta correlação demonstrada entre o alcoolismo e a violência doméstica, é importante que as instituições que tratam os dois problemas trabalhem em conjunto, para proteger as vítimas, os filhos e também os agressores que, acabam muitas vezes por se transformarem em vítimas das suas vitimas.
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