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Frio pode condicionar genética

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Existe uma forte correlação entre o clima e muitas das variações genéticas que parecem influenciar o risco desta perturbação do metabolismo

Muitas das variações genéticas responsáveis pela tolerância ao frio podem afectar a susceptibilidade à síndrome metabólica, um conjunto de disfunções simultâneas que inclui obesidade abdominal, hipertensão arterial, colesterol elevado e resistência à insulina, noticia a agência Lusa.

Segundo um estudo epidemiológico nacional divulgado pela Sociedade Portuguesa de Cardiologia, a síndrome metabólica afecta um em cada três portugueses, tendo prevalência maior nas mulheres (31,19 por cento) do que nos homens (27,46 por cento).

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É crescente em Portugal a prevalência desta patologia, que aumenta «duas a três vezes o risco cardiovascular dos doentes», referia o mesmo estudo, divulgado em 2007.

Agora, um grupo de investigadores da Universidade de Chicago (EUA) descobriu uma forte correlação entre o clima e muitas das variações genéticas que parecem influenciar o risco desta perturbação do metabolismo, confirmando a ideia de que essas variantes têm um papel crucial na adaptação ao frio.

Segundo um estudo publicado esta sexta-feira na revista norte-americana PLoS Genetics, alguns genes associados à tolerância ao frio têm um efeito protector contra a doença, enquanto que outros aumentam o risco de a contrair.

«Os nossos antepassados mais remotos viviam num clima quente e húmido que favorecia a dispersão de calor», diz Anna Di Rienzo, professora de Genética Humana na Universidade de Chicago. «À medida que algumas populações foram saindo de África para climas mais frios, terá havido um processo de adaptação ao novo ambiente que reforçou a produção e retenção de calor».

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«Milhares de anos mais tarde», acrescentou, «numa era que combina o uso generalizado do aquecimento central à abundância de alimentos, essas alterações genéticas revestiram um significado diferente, afectando a susceptibilidade a síndrome metabólica».

Os investigadores procuraram ligações entre a frequência de variações genéticas ligadas a esta patologia e variáveis climáticas em amostras de populações a nível mundial. Seleccionaram para isso 82 genes associados ao metabolismo energético e procuraram neles variações relacionadas com clima.

O estudo, que abrangeu variações genéticas em 1.034 pessoas de 54 populações, constatou correlações generalizadas entre as frequências de certas variações genéticas e climas mais frios.

Um dos sinais mais fortes de selecção surgiu no receptor da leptina, um gene envolvido na regulação do apetite e no equilíbrio energético. Uma versão deste gene é cada vez mais comum em zonas com Invernos mais frios e está associada ao aumento de quociente respiratório - capacidade de receber oxigénio e libertar dióxido de carbono - que ocorre na produção de calor.

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Este alelo também tem sido associado a índices mais baixos de massa corporal, menor gordura abdominal e tensão arterial mais baixa, sendo por isso protector contra a síndrome metabólica, o que nem sempre é o caso entre os genes variantes relacionados com a tolerância ao frio.

Segundo os autores, a procura de genes que variam com o clima pode fornecer pistas adicionais sobre o aparecimento de doenças relacionadas com o metabolismo.

«Os processos metabólicos que influenciam a tolerância a extremos climáticos parecem desempenhar papéis importantes na patogénese de perturbações metabólicas comuns», afirmam.

«Os nossos resultados apontam para um papel das adaptações climáticas nos processos biológicos subjacentes à síndrome metabólica e aos seus fenótipos», concluem os cientistas.

A síndrome metabólica está associada a diversas consequências para a saúde, nomeadamente doença coronária, diabetes de tipo 2 e acidente vascular cerebral (AVC), sendo considerada pela Organização Mundial de Saúde como uma epidemia do século XXI.

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