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«Mais valia ter ido a Espanha»

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Reportagem de Anadia a Vila Real, onde Correia de Campos avançou em força com encerramento de urgências antes de encontrar alternativas reais. População fala em situação «desesperante», não entende as razões da mudança e já não sabe a quem recorrer em caso de emergência

O desabafo foi lançado por um grupo de pessoas que aguardava pacientemente pelo familiar junto às urgências do Hospital de Vila Real. Vindos de Chaves, tiveram de percorrer 60 quilómetros para resolver uma emergência, quando tinham à distância de 20 quilómetros, em Verín, um serviço que poderia resolver-lhes o problema: «Se no Alentejo vão a Badajoz, nós também deveríamos aproveitar e ir a Espanha».

A requalificação dos serviços de urgência em Portugal está a causar polémica, com o ministro Correia de Campos a seguir as indicações dos peritos e os doentes a sentirem o seu impacto sem que haja uma real comunicação com as populações. No terreno, sente-se apenas a reacção e não a acção. Sabe-se o que vai fechar, não se conhecem as alternativas. À porta das antigas urgências, como acontece em Peso da Régua ou Anadia, surge agora um aviso: em caso de urgência ligue para 808 24 24 24 (linha Saúde 24) ou 112.

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Na realidade, as pessoas queixam-se, necessariamente pela falta de informação, talvez pela falta de habituação, quase sempre pelas longas deslocações, pelo cansaço acumulado. O Hospital de Vila Real acaba por ser um exemplo de aglutinação, pois passa a receber cada vez mais pacientes. Numa noite, que não precisa de ser muito agitada, é usual ver chegar ambulâncias de sítios tão díspares como Chaves, Santa Marta de Penaguião, Alijó ou Lamego.

O que se pede aos portugueses é uma mudança brusca de hábitos, de uma relação muito própria com os cuidados de saúde, que contava com a porta aberta no hospital, sempre que necessário. Isso não foi explicado e a revolta torna-se inevitável. «Estou aqui há mais de três horas, fiz todas as análises e ainda não sei o que tenho. Disseram-me agora que tenho de fazer tudo outra vez porque um dos frascos das análises partiu. É desesperante», referia Maria Teixeira, em plena urgência de Vila Real.

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A triagem

Não é preciso passar muito tempo nas urgências de um hospital central, agora categorizado como Serviço de Urgência Polivalente (SUP), para se perceber que o sistema ainda não esta oleado. A já famosa Triagem de Manchester responde a um método mecanizado, baseado num programa de computador, pouco humanizado, mas necessariamente eficiente.

À chegada, os casos realmente urgentes, vindos de graves acidentes de viação ou paragens cardíacos, entram directamente para o patamar superior (vermelho), com atendimento imediato. As verdadeiras emergências são assim. Aqui a triagem é fácil, os problemas surgem a seguir.

A cor laranja corresponde a situações muito urgentes, com tempo de atendimento de cerca de dez minutos; o amarelo é urgente, com mais ou menos uma hora de espera; os verdes são pouco urgentes, com duas horas de espera; e os azuis não são urgentes, com quatro horas de espera. Pela experiência de médicos de urgência, partilhada com o PortugalDiário, «dois terços dos casos que surgem são agudizações e isso não tem de ser tratado numa urgência, mas junto do médico de família ou num Centro de Saúde». As taxas moderadoras já serviram para afastar muita gente das urgências, mas especialista defendem que deviam ser mais elevadas, para que os serviços se concentrassem no «essencial».

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Dormir no «banco»

«Todos os médicos sabem que no Inverno há mais gente nas urgências», desabafava um dos clínicos com décadas de experiência. A questão é que as urgências estão desenhadas para todo o ano e o sistema tem de ser agilizado nesse sentido. Ainda assim, com o fecho de algumas unidades, é possível encontrar muitos idosos nos «bancos», à espera de vez, muitas vezes dormindo, mas num local aquecido e com atenção, mesmo que encostados num corredor, enquanto os hospitais se debatem com a falta de médicos experientes.

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