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Entrevistas de Ferro a Salazar são «propaganda»

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Historiador Fernando Rosas diz que Ferro «dá vida e calor» às ideias do líder do regime

O historiador Fernando Rosas defende que as entrevistas de António Salazar a António Ferro, na década de 1930, foram «o primeiro manual de propaganda» do regime saído do Golpe Militar de 1926, noticia a Lusa.

A afirmação surge no prefácio do livro que reúne as sete entrevistas feitas por António Ferro ao ex-Presidente do Conselho, editado pela Parceria A.M. Pereira, e que inclui fotos inéditas do arquivo do entrevistador que assumiu funções como chefe do Secretariado de Propaganda Nacional.

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Estamos, escreve Rosas, perante um «discurso teatralizado». Às ideias do líder do regime, Ferro «dá-lhes vida, calor», escreve Fernando Rosas.

Essa vertente «propagandística» é mais notória no último encontro entre Ferro e Salazar, os dois fazem um «roteiro turístico e propagandístico das realizações do regime na capital». O cenário, afirma Rosas, é o de «uma Lisboa pobre mas alegre, sem gramofone mas com canário na gaiola».

Explica Fernando Rosas - autor de várias obras sobre a época, designadamente o «Dicionário do Estado Novo» - que Ferro ao propor estas entrevistas ao «mítico, mas ainda algo obscuro ministro das Finanças da Ditadura, finalmente nomeado Presidente do ministério em Julho de 1932», pretende que «o ditador fale ao povo».

Ferro pretendia que Salazar explicasse as suas ideias e dá-lhe «palco» assumindo-se, escreve Rosas, como «o intermediário de Salazar junto do povo.

Se na altura da sua publicação no Diário de Notícias estas entrevistas tiveram actualidade jornalística, são depois editadas num volume que se torna no «livro por excelência de propaganda do regime». Hoje são uma «fonte incontornável ao conhecimento do discurso político e ideológico do Estado Novo e de Salazar na década decisiva da sua implantação e do seu auge».

Fonte importante, prossegue o historiador, «tanto mais que a grande parte deste ideário Salazar se manterá apegadamente, rigidamente, fiel até ao fim, 30 anos após a última entrevista» em 1938.

O Salazar que surge nestas entrevistas, escreve Fernando Rosas, é obra de Ferro «na completa acepção do termo. O Salazar que emerge das entrevistas» é Ferro quem o «cria, encena e apresenta com desvelo e minúcia do ficcionista ou, se quisermos, do autor teatral».

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