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"Se tivéssemos o colete, morríamos todos"

Comandante da embarcação "Jesus dos Navegantes", que naufragou em 2013 na Figueira da Foz, começou a ser julgado no Tribunal de Coimbra por homicídio negligente

O comandante da embarcação, de 42 anos, afirmou ainda que não tinha conhecimento do edital da capitania e que nunca mandou vestir os coletes, mas que recomendava, aquando da saída do cais, que os tripulantes os envergassem.

O comandante da embarcação "Jesus dos Navegantes", que naufragou em 2013 na Figueira da Foz, começou esta segunda-feira a ser julgado no Tribunal de Coimbra por homicídio negligente, afirmando que, se tivessem sido usados os coletes, toda a tripulação morreria.

"Morríamos todos. Se tivéssemos o colete, morríamos todos", disse o comandante da embarcação, a viver em Caxinas, Vila do Conde, no início do julgamento que começou hoje em Coimbra.

O Ministério Público (MP) acusa o comandante e proprietário da embarcação de quatro crimes de homicídio por negligência, considerando que o arguido "agiu de forma descuidada e desajustada" a 25 de outubro de 2013, aquando do naufrágio que provocou quatro mortos, num total de oito tripulantes.

Segundo o arguido, quando o barco virou, estando sete dos tripulantes perto da popa do barco, seria mais difícil mergulharem e voltarem à superfície com colete de salvamento envergado.

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"Quando o barco virou, ninguém foi projetado. Ficámos todos dentro do barco. Se tivéssemos colete, não conseguíamos mergulhar."

Durante a primeira audiência, o arguido, que conhecia bem o Porto da Figueira da Foz, sublinhou que o mar "estava calmo e estava sol" e ponderou a decisão antes de sair do Porto.

No entanto, foi surpreendido 700 metros depois da barra, com o barco a ser colhido por uma onda de 3,5 metros de altura, numa altura em que a embarcação não estava aproada à vaga, tendo sido atingida a estibordo, ficando a borda da zona da popa debaixo de água.

O arguido ainda tentou estabilizar o barco, mas a embarcação foi novamente colhida por uma nova vaga, com 3,5 metros de altura, atingindo a embarcação por estibordo, o que provocou o naufrágio.

"O mar é imprevisível", justificou, afirmando que não podia ter feito nada para evitar a morte dos quatro tripulantes da embarcação.

Um piloto de barra (profissional que faz assessoria técnica para manobras de entrada e saída), ouvido como perito, considerou que o trajeto feito pela embarcação é "o procedimento normal", ao tentar "ganhar águas mais fundas", que têm menos ondulação.

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"O mar por vezes engana", constatou, considerando que os comandantes podem tomar as melhores decisões "e correr mal, e tomar as piores decisões e correr bem".

O perito relembrou ainda que "os pescadores não são incentivados a usar o colete, porque se o barco virar, o colete não ajuda".

Já outro perito também ouvido pelo Tribunal de Coimbra salientou que os coletes de salvamento "podem ser desaconselháveis dentro do barco, mas no exterior o colete seria sempre uma mais-valia".

Segundo o despacho de acusação do MP, a que a agência Lusa teve acesso, o armador não obedeceu ao plano de navegação recomendado na carta náutica, "nem atendeu às condições meteorológicas e oceanográficas desfavoráveis" e não ordenou que os tripulantes "envergassem os coletes de salvação".

 

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