Prestação da casa volta a aumentar em abril. E subida dos juros ainda não acabou. Boas notícias, talvez depois do verão - TVI

Prestação da casa volta a aumentar em abril. E subida dos juros ainda não acabou. Boas notícias, talvez depois do verão

Casa (Getty Images)

Os dados da inflação e a turbulência no setor financeiro serão determinantes para a política a seguir pelo Banco Central Europeu (BCE) e para evolução das taxas Euribor. Para já, quem tem contratos de crédito à habitação a ser revistos este mês vai voltar a sentir um novo aumento da prestação a pagar ao banco. Confirme as simulações

Relacionados

As taxas Euribor não param de subir. É assim desde janeiro do ano passado e março não foi exceção. Seja a três, seis ou 12 meses, a média mensal das Euribor voltou a subir em relação a fevereiro. E para quem tem os seus contratos revistos em abril, o efeito será imediato. A prestação a pagar ao banco vai aumentar. E nalguns casos, muito.

Os detentores de contratos indexados à Euribor 12 meses, que sejam revistos este mês, podem mesmo ver a prestação aumentar mais de 300 euros. Num contrato de 150 mil euros, a 30 anos, com um spread de 1%, a prestação a pagar ao banco era ligeiramente superior a 466 euros. Mas a partir do próximo mês, passará a rondar os 773 euros. Um aumento de 307 euros.

Os detentores de contratos indexados à Euribor 12 meses são os que terão os aumentos mais expressivos, uma vez que praticamente ainda não tinham sentido a subida das taxas de juro e mantinham a prestação inalterada desde abril do ano passado.

Nos restantes contratos, quer sejam indexados à Euribor 3 ou 6 meses, também haverá subidas em abril, mas menos expressivas, porque já tinham sentido a subida dos juros em revisões anteriores. Usando o mesmo exemplo de um contrato de 150 mil euros a 30 anos com um spread de 1%, num contrato indexado à Euribor 6 meses, com a revisão de abril, a subida no último ano já passa os 284 euros. E num contrato indexado à Euribor 3 meses, a subida no espaço de um ano é já superior a 258 euros.

Quanto já aumentou e quanto vai subir em abril a prestação da casa

Empréstimo a 30 anos com spread de 1%

EURIBOR A 3 MESES

  Empréstimo de 25 mil euros
  Prestação Aumento
Abril de 2022 74,85  
Julho de 2022 77,69 2,84
Outubro de 2022 92,54 14,85
Janeiro de 2023 106,25 13,71
Abril de 2023 117,99 11,74
Aumento anual   43,1
  Empréstimo de 50 mil euros
  Prestação Aumento
Abril de 2022 149,70  
Julho de 2022 155,39 5,69
Outubro de 2022 185,08 29,69
Janeiro de 2023 212,50 27,42
Abril de 2023 235,98 23,48
Aumento anual   86,3
  Empréstimo de 75 mil euros
  Prestação Aumento
Abril de 2022 224,56  
Julho de 2022 233,08 8,52
Outubro de 2022 277,63 44,55
Janeiro de 2023 318,76 41,13
Abril de 2023 353,97 35,21
Aumento anual   129,4
  Empréstimo de 100 mil euros
  Prestação Aumento
Abril de 2022 299,41  
Julho de 2022 310,78 11,37
Outubro de 2022 370,17 59,39
Janeiro de 2023 425,01 54,84
Abril de 2023 471,95 46,94
Aumento anual   172,5
  Empréstimo de 125 mil euros
  Prestação Aumento
Abril de 2022 374,26  
Julho de 2022 388,47 14,21
Outubro de 2022 462,71 74,24
Janeiro de 2023 531,26 68,55
Abril de 2023 589,94 58,68
Aumento anual   215,7
  Empréstimo de 150 mil euros
  Prestação Aumento
Abril de 2022 449,11  
Julho de 2022 466,17 17,06
Outubro de 2022 555,25 89,08
Janeiro de 2023 637,51 82,26
Abril de 2023 707,93 70,42
Aumento anual   258,8

 

EURIBOR A 6 MESES

  Empréstimo de 25 mil euros
  Prestação Aumento
Abril de 2022 75,71  
Outubro de 2022 100,03 24,32
Abril de 2023 123,19 23,16
Aumento num ano   47,5
  Empréstimo de 50 mil euros
  Prestação Aumento
Abril de 2022 151,42  
Outubro de 2022 200,07 48,65
Abril de 2023 246,38 46,31
Aumento num ano   95,0
  Empréstimo de 75 mil euros
  Prestação Aumento
Abril de 2022 227,13  
Outubro de 2022 300,1 72,97
Abril de 2023 369,57 69,47
Aumento num ano   142,4
  Empréstimo de 100 mil euros
  Prestação Aumento
Abril de 2022 302,84  
Outubro de 2022 400,13 97,29
Abril de 2023 492,76 92,63
Aumento num ano   189,9
  Empréstimo de 125 mil euros
  Prestação Aumento
Abril de 2022 378,56  
Outubro de 2022 500,16 121,6
Abril de 2023 615,95 115,79
Aumento num ano   237,4
  Empréstimo de 150 mil euros
  Prestação Aumento
Abril de 2022 454,27  
Outubro de 2022 600,2 145,93
Abril de 2023 739,14 138,94
Aumento num ano   284,9

 

EURIBOR A 12 MESES

  Empréstimo de 25 mil euros
  Prestação Aumento
Abril de 2022 77,72  
Abril de 2023 128,88  
Aumento num ano   51,2
  Empréstimo de 50 mil euros
  Prestação Aumento
Abril de 2022 155,43  
Abril de 2023 257,76  
Aumento num ano   102,3
  Empréstimo de 75 mil euros
  Prestação Aumento
Abril de 2022 233,15  
Abril de 2023 386,64  
Aumento num ano   153,5
  Empréstimo de 100 mil euros
  Prestação Aumento
Abril de 2022 310,87  
Abril de 2023 515,52  
Aumento num ano   204,7
  Empréstimo de 125 mil euros
  Prestação Aumento
Abril de 2022 388,59  
Abril de 2023 644,4  
Aumento num ano   255,8
  Empréstimo de 150 mil euros
  Prestação Aumento
Abril de 2022 466,3  
Abril de 2023 773,28  
Aumento num ano   307,0

Uma boa notícia em março e outra no horizonte

Apesar da subida registada em março na média mensal das taxas Euribor, há, ainda assim, uma boa notícia a registar: a subida foi menor que no mês anterior e no caso das Euribor 12 meses, o aumento foi mesmo o menor desde fevereiro do ano passado.

A justificar este abrandamento da subida dos juros esteve a turbulência que se fez sentir nas últimas semanas no setor financeiro em resultado da queda do Silicon Valley Bank, nos Estados Unidos da América (EUA), e do Credit Suisse, na Suíça.

Os receios de que se possa estar perante uma nova crise financeira, à semelhança do que aconteceu entre 2007 e 2009 levou as autoridades monetárias, como o BCE, a refrear o discurso em relação à subida das taxas de juro, um efeito que acabou por se sentir também na evolução das taxas Euribor. Na última reunião de política monetária da autoridade da zona euro, apesar de Christine Lagarde e restantes membros do BCE se terem decidido por uma subida das taxas de juro de 0,5 pontos percentuais, o discurso mudou, abrindo portas ao fim de ciclo de subida de taxas.

NOTA

O BCE tem três taxas de juro de referência:

- A taxa das principais operações de refinanciamento. A taxa à qual os bancos podem contrair empréstimos junto do BCE pelo prazo de uma semana: está atualmente nos 3,5%, mas esteve fixada em zero entre março de 2016 e julho do ano passado;

- A taxa de depósito, que determina os juros que os bancos recebem pelos depósitos realizados junto do BCE: está atualmente em 3%. Mas entre julho de 2012 e junho de 2013 era de zero. E entre junho de 2013 e julho do ano passado era negativa, obrigando os bancos a pagar pelos depósitos que faziam no BCE;

- E a taxa de cedência de liquidez, que determina o juro a que os bancos pagam quando contraem empréstimos junto do BCE pelo prazo de um dia (overnight). Está atualmente em 3,75%.

 

Apesar de o BCE indicar que está disposto a levantar o pé do acelerador em relação à subida das taxas de juro, isso não quer, no entanto, dizer que a subida terminou, até porque está não é uma questão pacífica dentro da autoridade monetária da zona euro.

E se há vozes, como a do governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, que apontam para que o fim da subida das taxas de juro possa ocorrer já em maio, quando o BCE se voltar a reunir para novas decisões de política monetária.

Os ingredientes que temos para esta decisão são muito favoráveis a uma estabilização do processo de subida de taxas. E, no limite, porque não, a uma paragem do processo de subida de taxas”, defendeu Mário Centeno na semana passada em entrevista à agência Lusa.

Também há vozes que defendem que a subida das taxas deve continuar em maio e para lá de maio, mesmo que a um ritmo mais lento, como é o caso do economista-chefe do BCE, Philip Lane.

No nosso cenário base, a fim de garantir que a inflação desce para 2%, serão necessários mais aumentos. E se o stress financeiro a que assistimos se revelar bastante limitado, as taxas de juro ainda terão de subir", defendeu Lane em declarações ao jornal alemão Die Zeit, citadas pela Reuters.

O que vai acontecer vai depender da evolução da taxa de inflação na zona euro, que em março voltou a descer, mas também da evolução das dúvidas que ainda existem em relação ao sistema financeiro nos EUA e na zona euro.

Paulo Rosa, economista Sénior do Banco Carregosa, recorda que na última reunião do BCE, a 16 de março, Christine Lagarde reiterou que iria esperar pelos desenvolvimentos no setor bancário “para decidir o próximo passo da política monetária, não se tendo comprometido com nenhuma postura”. Mas, entretanto, prossegue o economista, à medida que “os receios em torno do sistema bancário se dissipam, crescem as probabilidades de uma alta de 25 pontos base na próxima reunião do BCE a 4 de maio”. Paulo Rosa sublinha mesmo que “a probabilidade de aumento de 25 pontos base no dia 4 de maio é de 93%. Ou seja, uma subida da taxa de depósito para 3,25%”.

Ainda assim, o economista lembra que os dados da inflação da zona euro e da Alemanha também serão determinantes “para perceber o quão enraizada está a inflação, corroborando ou não a necessidade dessa mesma alta de 25 pontos”. No entanto, conclui Paulo Rosa, “pela evolução das taxas Euribor, percebe-se que a taxa de juro terminal deve ter lugar o mais tardar no próximo verão”.

Já o economista Filipe Garcia, presidente da Informação de Mercados Financeiros, começa por sublinhar que o mercado está consciente de duas coisas: “uma é que provavelmente as taxas de juro já não subirão o que se esperava há três semanas e a outra é que as subidas futuras irão depender da tranquilidade, ou falta dela, no sistema financeiro”.

E como na semana passada a situação no sistema financeiro ficou mais calma, aumentou “a probabilidade de o BCE retomar as subidas de taxas”, sublinha o economista, lembrando que nos últimos dias se tem assistido “a comentários de vários membros do BCE a advogar mais subidas de juros”. Assim, Filipe Garcia diz que “o mercado prevê entre uma a duas subidas [das taxas de juro do BCE] adicionais este ano, de 25 pontos base cada e uma taxa Euribor a 6 meses que poderá chegar aos 3,70% como taxa terminal no outono.”

Ou seja, segundo os dois economistas, tudo leva a acreditar que ainda haverá subida de taxas de juro por parte do BCE, e que o topo será alcançado no final do Verão ou do Outono. Mas até lá, tudo vai depender da evolução da inflação e da evolução do sistema financeiro.

Continue a ler esta notícia

Relacionados