A pedalar em protesto 300 quilómetros - TVI

A pedalar em protesto 300 quilómetros

  • Marta Ferreira
  • 5 jun 2006, 21:40
Ciclista

Não recebe bolsa de investigação há três meses. Devem-lhe 4 mil euros

Já o sol queimava quando começou a pedalada, às 10 da manhã, em frente à Câmara Municipal do Porto. O destino? Lisboa. E o que leva João Freire a fazer tão longa jornada de bicicleta? Protestar contra os atrasos no pagamento da bolsa de investigação.

«Estou há três meses sem receber bolsa e desde Dezembro que não recebo ajudas de custo. No total, estão a dever-me 4200 euros», conta ao PortugalDiário João Freire, o bolseiro que está a desenvolver um projecto sobre o modelo de crescimento do pinheiro manso e a produção de pinhas.

A bolsa é dada pela Estação Florestal Nacional, «mas a responsabilidade não é da Estação, que tem feito todos os possíveis para resolver a situação. Os culpados são os superiores: o IFADAP (Instituto de Financiamento e Apoio ao Desenvolvimento da Agricultura e das Pescas) e o INIAP (Instituto Nacional de Investigação Agrária e das Pescas)», explica o bolseiro.

Foi por «altura do Carnaval», que começou a perceber «que não tinha dinheiro para a gasolina» e começou a fazer o percurso entre casa e o trabalho (São Marcos e Oeiras) de bicicleta, «nove quilómetros e duzentos metros para cada lado».

Foram muitas as vezes que tentou resolver os problemas junto dos dois institutos e, há cerca de um mês, escreveu mesmo uma carta ao ministro da Agricultura. Recebeu um e-mail em resposta, assegurando que «as coisas seriam resolvidas rapidamente».

Junho chegou e como a solução parecia não estar sequer encaminhada, João decidiu aproveitar o seu período de férias, pegar no seu transporte de todos os dias e percorrer o país de norte a sul em protesto.

«O objectivo é fazer o protesto numa semana, passando pelos três centros de investigação: Porto, Aveiro e Lisboa», explica ao PortugalDiário João Freire.

A primeira etapa da jornada já cumpriu: esta segunda-feira percorreu 85 quilómetros e chegou a Aveiro. Foram quatro horas a pedalar, com «algumas pausas por causa do calor». Vai ficar numa residencial porque a Associação dos Bolseiros de Investigação Científica, que apoia o protesto, «vai pagar as despesas».

Quanto a comida, «vou parando em supermercados para comprar uns iogurtes. Não há dinheiro para mais», confidencia ao PortugalDiário.

Para terça-feira, o destino é São Pedro de Moel, onde vai ficar num parque de campismo. A partida está marcada para as sete da manhã, «para tentar apanhar as horas de menos calor».

«Se tudo correr bem, espero chegar a Lisboa na sexta-feira. Quero estar à porta do Ministério da Agricultura pelas 17 horas», diz o «bolseiro ciclista». O PortugalDiário vai acompanhar todo o percurso.
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