Pode ainda não conhecer o termo, mas certamente que conhece os sintomas. Burnout é «uma forma muito severa de esgotamento mental e físico devido a excesso de stress intelectual e emocional» e, segundo o neuropsicólogo Nelson Lima, do Instituto da Inteligência, atinge entre «10 a 40 por cento da população laboral».
O problema afecta estudantes, controladores de tráfego aéreo, taxistas, jornalistas, professores, gestores, artistas e médicos. O especialista explica que «pode demorar um ou dois anos para recuperar, mas algumas sequelas mantêm-se por muitos anos».
A doença resulta de stress ocupacional extremo e apresenta-se com três diferentes componentes: «exaustão emocional, despersonalização e ausência de realização pessoal».
Segundo Nelson Lima, as pessoas que sofrem de burnout «manifestam, entre outras queixas, falta de energia, fadiga crónica, tensão, irritabilidade, aumento da susceptibilidade à doença, desânimo, esgotamento emocional, baixa auto-estima, falta de concentração, problemas de sono, sentimentos depressivos e evidente diminuição do rendimento no trabalho».
«Estamos a construir uma sociedade avançada mas neurótica»
Segundo o especialista a causa deste esgotamento e a dimensão que o problema atinge tem a ver com as exigências da sociedade actual. «Nunca o cérebro humano foi tão solicitado a dar o seu melhor como nos tempos actuais. O mundo força-nos a viver numa espécie de estado de alerta e exige-nos mais concentração, mais memória, mais inteligência, mais criatividade, mais conhecimento e maior capacidade de decisão», explicou.
Por que nos cansamos tanto?
«O nosso cérebro está cada vez mais saturado de estímulos de toda a natureza. A atenção é, por causa disso, a actividade mental mais solicitada», explicou o neuropsicólogo.
A capacidade de atenção varia ao longo da vida, do dia e das situações e pode ser perturbada por cansaço, stress, ansiedade e doenças. Segundo Nelson Lima, esta falta de atenção ou alerta é a causa de «muitos acidentes».
E para os que se julgam imunes a este problema, o investigador deixa um aviso: «Por muito resistentes que nos consideremos, o cérebro tem os seus limites».
«Sobrecarregamos o nosso cérebro de imagens, luzes, sons, sensações e informações, e muitos de nós aproximam-se perigosamente dos seus limites de resistência», afirmou Nelson Lima.
Os mais jovens também são afectados porque centram cada vez mais a sua atenção em «ecrãs [de televisão, computador, consolas ou telemóveis] onde o brilho e a velocidade das imagens é muito grande», disse o investigador.
Para o neuropsicólogo, é importante «que o problema de excesso de estimulação, tensão e cansaço com que sobrecarregamos o nosso cérebro (e o de nossas crianças e jovens) seja evitado».
Por isso, o investigador considera que se «torna necessário prevenir através dos meios possíveis, talvez através de campanhas nacionais de prevenção contra a fadiga intelectual que cheguem às escolas e aos locais de trabalho».
Por que andamos tão esgotados?
- Sara Marques
- 15 ago 2006, 23:15
Problema afecta 10 a 40 por cento dos trabalhadores e também atinge crianças. Demora anos a recuperar. Especialista diz que a culpa é das «exigências e estímulos da vida moderna», mas afirma que «é necessário prevenir»
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