A coroação do rei Carlos III levou milhares de britânicos e turistas às ruas para celebrar o evento que já não acontecia no país há 70 anos. Mas não foram apenas os apoiantes que quiseram marcar presença na cerimónia: vários manifestantes antimonarquia fizeram questão de aparecer na celebração para protestar contra a o regime monárquico, ecoando pelas ruas de Londres palavras de ordem como "Não é o meu rei" e empunhando cartazes com a mesma declaração.
No final da coroação, a Polícia Metropolitana emitiu um comunicado no qual dava conta de 52 detenções por "ofensas à ordem pública, violação da paz e conspiração para provocar a perturbação da ordem pública". Entre os detidos, estavam seis membros da organização “Republic”, defensora da abolição da monarquia, incluindo o seu líder, Graham Smith, que foi libertado 16 horas depois da detenção.
O responsável recorreu ao Twitter para anunciar a sua libertação e expressar o seu desagrado com o sucedido: "Não cometam nenhum erro. Já não existe o direito ao protesto pacífico no Reino Unido. Disseram-me várias vezes que o monarca está lá para defender as nossas liberdades. Agora, as nossas liberdades estão a ser atacadas em seu nome."
I’m now out of the police station. Still waiting for my colleagues.
— Graham Smith 🇺🇦 🏳️🌈 (@GrahamSmith_) May 6, 2023
Make no mistake. There is no longer a right to peaceful protest in the UK.
I have been told many times the monarch is there to defend our freedoms. Now our freedoms are under attack in his name.
Em declarações à CNN Internacional, Harry Stratton, diretor do Republic, contou que pelas 07:00, pouco antes do início da coroação, a polícia parou Graham Smith e outros cinco membros do grupo no momento em que se preparavam para um protesto na Trafalgar Square, no caminho por onde passaria o cortejo que levou o rei à Abadia de Westminster. Os ativistas vestiam t-shirts amarelas e empunhavam cartazes com palavras de ordem contra a monarquia e contra Carlos III, que acabaram por ser apreendidos pelos agentes.
"Não lhes disseram porque os estavam a prender. Não lhes disseram para onde os estavam a levar. É mesmo algo fora do estado policial", afirmou Stratton.
Além dos membros do Republic, a polícia deteve também dezenas de ativistas ambientais do grupo Just Stop Oil (Parem com o Petróleo), conhecidos pelas suas ações de bloqueio do trânsito e de interrupção de eventos públicos.
A Human Rights Watch, uma organização não-governamental e sem fins lucrativos, já lamentou o sucedido, classificando as detenções que ocorreram à margem da coroação como “algo que seria expectável em Moscovo, não em Londres”.
Mas, para a Polícia Metropolitana de Londres, as detenções foram justificadas pelo "contexto", salientando que "a coroação é um evento único para uma geração", daí a importância de manter a ordem.
"O protesto é legal e pode ser disruptivo. Estivemos em inúmeros protestos sem intervenção na preparação para a coroação e depois do evento. Temos o dever de o fazer de uma forma proporcional em linha com a legislação relevante. Também temos o dever de intervir quando o protesto se torna criminal e pode causar sérias perturbações”, argumentou a comandante Karen Findlay, que liderou a operação policial, citada num comunicado da Polícia Metropolitana de Londres.
Estas detenções surgiram no âmbito de uma nova lei controversa, promulgada dias antes da coroação, que aumenta os poderes da polícia para conter protestos e que permite detenções pela simples intenção de perturbar a ordem pública.