Um estudo da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) concluiu que a desregulação da insulina e da leptina, típicas da diabetes tipo 2, cria um “ambiente metabólico favorável” ao desenvolvimento do cancro da mama, foi revelado esta quarta-feira.
De acordo com informação enviada à agência Lusa, esta investigação pode vir a desvendar uma nova forma de abordagem terapêutica para casos de cancro da mama.
“A grande dependência das células tumorais em ‘combustíveis’, como a glicose e a glutamina, constitui uma vulnerabilidade metabólica específica do tumor, o que pode criar janelas terapêuticas adicionais para erradicar as células tumorais”, refere a investigadora da FMUP, Cláudia Silva, citada no resumo enviado à Lusa.
Em causa estão as diferentes características metabólicas associadas à diabetes mellitus tipo 2 (DM2) e a convicção de que estas podem espoletar a iniciação e a progressão de cancro da mama, sendo os efeitos mais evidentes no subtipo mais agressivo da doença.
Com este estudo, os investigadores procuraram perceber qual a ligação entre as características mais comuns encontradas em pacientes com diabetes tipo 2 e a captação celular de glicose e glutamina, dois nutrientes das células de cancro da mama.
De acordo com a FMUP, os resultados demonstraram que níveis elevados de importantes componentes da desregulação metabólica que se verifica na DM2, como a insulina e a leptina, interferem na proliferação, migração, formação de novos vasos sanguíneos e sobrevivência das células tumorais e não tumorais da mama.
Esta realidade “proporciona um ambiente metabólico favorável para o desenvolvimento de cancro da mama”, lê-se no resumo do estudo.
Cláudia Silva acredita que, com esta descoberta, pode estar-se perante um novo alvo para o tratamento de cancro da mama em pacientes com DM2, isto porque os dados deste estudo sugerem que os tumores da mama são sensíveis à inibição farmacológica de dois principais transportadores de nutrientes.
“Uma terapia direcionada pode ser uma estratégia eficaz para reduzir ou prevenir o início, promoção e progressão de cancro da mama em doentes com DM2”, aponta Cláudia Silva.
Adicionalmente, estes dois transportadores podem ser usados como biomarcadores para o risco de desenvolvimento de cancro da mama em pacientes com DM2.
O cancro da mama é descrito como a neoplasia maligna mais comum entre as mulheres a nível mundial, sendo que entre 20 a 28% dos casos têm também diagnóstico de diabetes tipo 2.
“O cancro da mama em mulheres com DM2 é frequentemente diagnosticado numa fase avançada em comparação com mulheres sem diabetes, o que pode explicar o aumento até 50% da mortalidade nestes casos”, acrescenta a autora do estudo.
Intitulada “The role of nutrient transport by cancer cells in the interaction between type 2 diabetes mellitus and breast cancer” (em português “O papel do transporte de nutrientes pelas células cancerígenas na interação entre diabetes mellitus tipo 2 e o cancro da mama”), esta a investigação foi realizada no âmbito do doutoramento em Metabolismo - Clínica e Experimentação, sob orientação da professora da FMUP, Fátima Martel.