Padre assume apelo ao «não» na missa - TVI

Padre assume apelo ao «não» na missa

  • Portugal Diário
  • Helena Fidalgo, agência Lusa
  • 5 jan 2007, 14:57
Padre Ilídio Mesquita (foto de Ivo Pires, da Lusa)

Diácono de cinco aldeias do Nordeste Transmontano não se importa que a atitude lhe possa custar um processo na Comissão Nacional de Eleições

O responsável religioso por cinco aldeias do Nordeste Transmontano, Ilídio Mesquita, assumiu hoje à Lusa que no Domingo do referendo ao aborto vai apelar ao voto no «não», mesmo que lhe custe um processo na Comissão Nacional de Eleições.

O diácono Ilídio Mesquita garante que nas celebrações religiosas do dia do referendo, a 11 de Fevereiro, vai dizer aos fiéis: «eu voto não e aconselho, peço, imploro aos cristãos que estão aqui para fazerem o mesmo».

«Mesmo sujeitando-me a ser penalizado pela Comissão Nacional de Eleições», frisou, referindo-se à proibição legal de no dia de um acto eleitoral ser feita campanha ou apelo ao voto em qualquer sentido.

O diácono, cujas funções na Igreja diferem das do padre por estar impedido de praticar alguns actos, nomeadamente a confissão, é responsável pela paróquia de Soutelo Mourisco, que integra Cabanas e Vilar Douro, e ainda Veigas e Pinhovelo, no concelho de Macedo de Cavaleiros, distrito de Bragança.

Ilídio Mesquita entende que «os párocos não devem imiscuir-se na política», mas considera que a questão em causa «não é política» e que «exige o envolvimento de toda a sociedade em defesa da vida, principalmente numa região como a de Trás-os-Montes, com taxas tão baixas de natalidade e cada vez mais desertificada».

«Nós não queremos que as mulheres sejam penalizadas, mas mais do que o referendo ao aborto era importante dar condições às mães para terem filhos», defendeu o religioso, de 40 anos, conhecido na região pelas suas funções na área do social, à frente de uma associação de Macedo de Cavaleiros, a ADIMAC, que já criou duas empresas de inserção para mulheres.

Segundo disse, nos últimos seis anos engravidaram 10 funcionárias e só lamenta é que «em Portugal não se criem mais incentivos à natalidade, à semelhança do que está a acontecer na Alemanha».

Na actual discussão lamenta que «a questã dos direitos das mulheres pareça resumida ao aborto e não se exijam mais condições, como o apoio na maternidade, mais escolas para educarem os filhos e outros questões sócio-económicas».

Na área social, afirma constatar que «as mulheres são os pobres dos pobres: representam o maior número de desempregados, são as que têm menos escolaridade e sentem ainda as consequências do tempo de subjugação a uma sociedade machista».

Menos directo na defesa do «não» ao aborto será José Bento, um jovem padre responsável por uma das paróquias da cidade de Bragança, que não abdicará, no entanto, de «apelar à vida» nas suas homilias. «Já fiz algumas referências e vou continuar a fazê-lo, sempre pela positiva».

Esta é a atitude que o bispo da Diocese de Bragança-Miranda, D. António Moreira Montes, espera de todos os párocos, com os quais vai reunir-se dia 15.

Segundo disse à Lusa, esta reunião já está agendada há alguns meses, porém um dos pontos da agenda será precisamente o referendo ao aborto.

Para o bispo, que é também vice-presidente da Conferência Episcopal, «o apelo à vida decorre da afirmação da doutrina normal da Igreja e estranho seria o contrário», pelo que entende não haver «nenhuma campanha especial», embora ad mita que «a questão está mais presente por causa do referendo».

D. António Moreira Montes «aprova e apoia» o movimento «Nordeste pela Vida», que deverá ser oficializado nos próximos dias, em Bragança, iniciativa da associação cristã «Famílias».
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