Câmaras: é para trabalhar 40 horas até ordem em contrário - TVI

Câmaras: é para trabalhar 40 horas até ordem em contrário

Função pública

Governo diz que negociação de acordos coletivos para manter 35 horas semanais ainda vai decorrer e, só depois da publicação desses acordos, é que funcionários poderão trabalhar menos tempo

Atualizada às 20:00 com reações

O Governo anunciou esta sexta-feira que vai negociar acordos coletivos de trabalho com as autarquias que propuseram manter as 35 horas semanais de trabalho. Mas, advertiu, o horário ainda é de 40 horas semanais. Só quando os acordos forem publicados, é que os funcionários poderão trabalhar menos tempo.

Num comunicado, o Ministério das Finanças (MF) anunciou que vai negociar os Acordos Coletivos de Entidade Empregadora (ACEEP) com as autarquias, de acordo com um parecer pedido à Procuradoria-geral da República (PGR) sobre a aplicação das 35 horas de trabalho semanais, cita a Lusa.

O parecer tinha sido pedido pelo MF na sequência dos acordos entregues por autarquias para homologação e que tinham sido negociados com os sindicatos tendo em vista a manutenção do horário de 35 horas semanais de trabalho, em vez das 40 previstas na lei.

De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores da Administração Local (STAL), foram assinados mais de 400 destes acordos entre autarquias e sindicatos para manter as 35 horas de trabalho semanais, que aguardam homologação do Governo.

Na prática, estas autarquias mantêm o horário de trabalho nas 35 horas, enquanto outras seguem a lei atualmente em vigor, de 40 horas semanais. 

O que está em causa, agora?    

O que o Governo revela hoje é que o parecer do conselho consultivo da PGR reconhece «a legitimidade dos membros do Governo responsáveis pelas áreas das finanças e da Administração Pública para a celebração de acordos coletivos de entidade empregadora pública (ACEEP) em conjunto com as autarquias locais, devendo a sua atuação ser conjunta e articulada durante todas as fases da negociação».

O Governo adianta que esta intervenção não se traduz «na emissão de ordens ou diretivas às autarquias locais», cabendo-lhe «dar resposta fundamentada e sugerir soluções negociais que assegurem a equidade interna no âmbito das Administrações Públicas e garantir a legalidade destes instrumentos de regulação coletiva de trabalho».

Desta forma, de acordo com o parecer, «irá o Governo dar resposta fundamentada às propostas de ACEEP remetidas pelas Autarquias Locais e desenvolver os necessários processos negociais no sentido de se alcançar o entendimento e consenso quanto aos diversos aspetos das propostas».

Ao intervir neste processo de negociação, o Governo afirma que vai ter em conta «os objetivos globais e individuais de equilíbrio financeiro das autarquias (em particular em matéria de endividamento e saldo orçamental), de não-agravamento da respetiva massa salarial (incluindo em horas extraordinárias) e de efetivos ganhos de eficiência e eficácia na sua gestão e funcionamento».

No comunicado, o MF acrescenta que um ACEEP só entra em vigor após a sua publicação em Diário da República, «aplicando-se até então a legislação geral em vigor», que prevê 40 horas semanais de trabalho para a administração pública.

Municípios reclamam divulgação do parecer

A Associação Nacional de Municípios Portugueses quer que o parecer em causa seja divulgado, para poder tomar uma decisão: «A ANMP reclama que lhe seja dado a conhecer esse documento que está há muito tempo na gaveta do Governo. Quando forem conhecidos os dados, fará o seu pronunciamento», lê-se numa declaração enviada à agência Lusa uma fonte oficial da associação.

Reações dos sindicatos

Entretanto, o Sindicato dos Trabalhadores da Administração Pública (SINTAP) já veio lamentar que o Governo tenha esperado mais de quatro meses para divulgar o parecer sobre os acordos coletivos.

«Queremos uma solução para os mais de 400 ACEEP que estão a aguardar homologação. O problema para nós não se coloca se o secretário de Estado assina ou não. Queremos é que os acordos sejam postos em prática, porque foram negociados livremente entre os representantes dos trabalhadores e as autarquias», afirmou o secretário-geral do SINTAP, José Abraão.

Já a Federação de Sindicatos da Administração Pública (FESAP) anunciou que vai tentar reunir o mais rapidamente possível com o Governo para desbloquear os acordos e, assim, manter as 35 horas semanais, «no mais curto espaço de tempo possível».

A FESAP considera «inaceitável» que o Governo «continue a manter em segredo o conteúdo integral do parecer da PGR e que, depois de tanto tempo de espera, continuemos sem saber como e quando serão resolvidos os processos relativos aos ACEP negociados».

O Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Administração Local (STAL), por sua vez, defendeu que o Governo deve publicar já os acordos e divulgue, também, o parecer sobre a matéria.

«Acabámos de enviar um ofício ao Ministério das Finanças, sendo parte interessada, a comunicar que se homologaram o parecer já não têm nenhuma razão para não dar o parecer», indicou à Lusa o presidente do STAL,  Francisco Braz.
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