Consumidor avatar: «A classe média morreu» - TVI

Consumidor avatar: «A classe média morreu»

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Crise mudou prioridades das pessoas. Portugueses tanto optam pelo low cost como pelo gourmet. Lema é viver o dia-a-dia em função dos rendimentos. Ou seja, «reinventar a qualidade de vida»

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A crise trouxe às costas um novo consumidor. Ou, antes, um consumidor readaptado a uma realidade imposta. Há quem o chame de consumidor avatar que reflecte uma «erosão drástica da classe média». E dita, no fundo, a sua morte. Foi o que se discutiu esta terça-feira na conferência «Consumidor Avatar», organizada pela Apodemo.



O consumidor «tornou-se infiel às empresas, volátil, mais racional e complexo». É online, «sabe o que quer e não aquilo que lhe querem vender», é socialmente responsável e mais sensível às causas ambientais. Procura value for money», resumiu Manuel de Paula, director de marketing do El Corte Inglés. É ele quem dita as leis.



Mas a realidade não ajuda. «Não vamos sair desta crise em menos de uma década. Perdemos capacidade de criar riqueza. E resolvemos o problema pela via do consumo artificial, do endividamento», lembrou o economista Augusto Mateus, presidente da Augusto Mateus & Associados.



São estas pessoas que pagam o preço mais alto. «A crise do Estado arrasta a classe média, o elemento chave no aperto do sistema fiscal. Ela morre por esta lógica do avatar».



Com a crise, surgiu uma mudança de paradigma. «Morreu a economia da oferta. Perderam-se activos com capacidade de gerar recursos». A pesar na balança está um Portugal envelhecido. Isso traz custos «muito significativos para a economia. É uma biografia que pesa».



Se antes existia a «miragem da utopia do pleno emprego», impõe-se agora a «miragem da utopia do emprego para todos».



Do low cost ao luxo é um passo



Daí que a lógica do avatar se coadune com o tempo de agora. Os «ciclos de vida dos produtos e os processos são mais curtos». Há duas premissas: a «civilização do ser (riqueza para moldar a qualidade de vida) e civilização do ter (ter qualidade de vida pela riqueza que exibimos)».



No avatar funciona a lógica da forma pelo conteúdo, mas o contrário também acontece. «Há consumidores que conseguem gerir dois ou mais avatares; passam do low cost aos produtos de luxo facilmente, o que é absolutamente determinante para sair da crise».



Chega de «entornar dinheiro»



Criar riqueza não é produzir sem rumo. Augusto Mateus diz que ela nasce do conhecimento e da capacidade de diferenciação. «Produzir para pessoas que vivem em sociedade é uma coisa. Produzir para avatares que controlam pessoas é outra. O desafio é trabalhar em colaboração com o consumidor e reinventar a qualidade de vida».



Mas para isso os consumidores «não vão poder continuar a entornar dinheiro sobre as suas necessidades». Tal como o Estado. É preciso, garante, «empurrar a lógica de ciclos de vida e não a lógica de compras instantâneas». Hoje as pessoas escolhem por prioridades. A pergunta é: o que traz felicidade? «Não é escolher para onde vou de férias, mas se posso ir de férias ou não», exemplificou Rui Dias Alves, da Return on Ideas.



Mas, atenção, este é um consumidor «equipado»; «vai gerir os seus próprios equipamentos como as empresas». E é-o de forma «muito dinâmica, mais rápida e em mais coisas».



Só que levou um pontapé da crise e «deixou de ser consumista para ser poupado». Passou a jogar na defensiva. «Tem mais noção do preço, é informado, é segmentado com base no rendimento que possui. Tão depressa vai ao outlet e opta pelo low cost como escolhe o gourmet», reforçou Manuel de Paula.



Não há tempo: «acabaram-se as filas de espera



«O Second Life é um primórdio de realidades futuras». As pessoas vivem rodeadas de plataformas digitais, são tecnodependentes. E não vão na conversa das empresas. É preciso «envolver o consumidor com a marca através do diálogo».



Este é, cada vez mais, um consumidor sem tempo. Procura o imediato. Pois bem, «acabaram-se as filas de espera». Mas ainda se espera pelo final da crise. Enquanto isso, a sociedade assiste à «convergência digital». Vamos saltar para outra era?
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