Produtores à mercê das grandes superfícies - TVI

Produtores à mercê das grandes superfícies

Hipermercados chegam a ter lucro de quase 80% em alguns produtos, diz Observatório dos Mercados Agrícolas

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A presidente do Observatório dos Mercados Agrícolas, Maria Antónia Figueiredo, afirmou esta sexta-feira que o desequilíbrio entre produtores e distribuidores se deve ao excesso de concentração das grandes superfícies, que têm um «enorme poder para negociar os preços».

O Observatório dos Mercados Agrícolas e Importações Agro-Alimentares (OMAIAA) comparou a diferença entre os preços de quatro produtos agrícolas (cenoura, pêra-rocha, maçã e alface) pagos ao produtor e pagos pelo consumidor, no mês de março, concluindo que as margens de comercialização dos hipermercados rondam os 50 por cento.

Uma situação que, segundo Maria Antónia Figueiredo, ocorre em todos os países europeus e que está a merecer a atenção da Comissão Europeia, que está a analisar formas de impor mais regras no relacionamento entre produtores e distribuidores.

«Verifica-se um grande desequilíbrio entre a produção e a distribuição e a Comissão Europeia começa a pôr esta questão na agenda. Este fenómeno existe em todos os países europeus porque cada vez mais as grandes superfícies estão muito concentradas, e isso dá-lhes enorme poder para negociar os preços», comentou a responsável do Observatório.

Maria Antónia Figueiredo acrescentou que «tem havido um aumento significativo dos custos para os agricultores que não foi acompanhado da subida dos preços», destacando a necessidade de acompanhar a evolução dos preços. «A única maneira de perceber como é distribuído o rendimento ao longo da cadeia alimentar é sabendo os preços».

Uma tarefa que é dificultada pela falta de informação do Ministério da Economia, que não disponibilizou dados sobre os preços ao consumidor, tendo sido diretamente recolhidos pelo Observatório.

Nas quatros semanas de março analisadas pelo OMAIAA o preço pago à produção aumentou ligeiramente, enquanto os preços ao consumidor diminuíram, encolhendo também as margens de comercialização dos distribuidores, que ainda assim ultrapassam quase sempre os 50 por cento.

O caso da alface é o mais flagrante, já que o produto rende apenas 0,38 cêntimos ao agricultor e é vendido a 1,78 euros, garantindo uma margem de comercialização de 78 por cento.

As cenouras são compradas a 0,32 cêntimos e vendidas a 0,70 cêntimos, proporcionando uma margem de 55 por cento, enquanto as maçãs são pagas a 0,59 cêntimos ao produtor e custam 1,34 cêntimos ao consumidor (margem de 56 por cento).

Só no caso da pêra-rocha a margem de lucro desce para 37 por cento, já que a fruta é adquirida a 0,65 cêntimos e chega às prateleiras dos supermercados a 1,04 euros.

APED: estudo «não é sério»

A Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição rejeita o estudo do observatório por «não ser sério, nem rigoroso».

Em declarações à Lusa, a diretora-geral da APED (Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição), Ana Isabel Trigo Morais, disse que a posição da entidade «é de rejeição destes dados da maneira como estão trabalhados e das suas conclusões».

Isto porque os dados «não estão trabalhados, ao que nos parece, de uma forma cientificamente credível, desconhecemos o universo destas amostras e os dados que foram utilizados».

Em segundo lugar, «não é sério, não é rigoroso e não é transparente que se publiquem dados desta natureza que confundem margens brutos com margens líquidas e com lucros. É uma total inversão e utilização abusiva de um conjunto de dados que foram apurados», salientou a diretora-geral da entidade que representa o setor dos hipermercados e supermercados.

Ana Isabel Trigo Morais salientou que não é possível calcular margens de comercialização através do preço de venda de um produto num retalhista, fazendo depois uma subtração ao preço que o agricultor vendeu o bem.

Também os agricultores protestaram contra as margens dos hipers.
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